O Globo
Um dia depois de anunciar que a delação de
Ronnie Lessa foi homologada, o ministro Ricardo Lewandowski recebeu a única
sobrevivente do atentado que matou a vereadora Marielle Franco e o motorista
Anderson Gomes.
Assessora do PSOL, Fernanda Chaves acompanhou
deputados do partido em audiência com o ministro. “Ele não me conhecia. Ficou
claramente impactado quando me apresentaram”, conta.
“Comecei dizendo que a homologação foi a
notícia mais importante desde a prisão dos dois executores. Sobretudo para quem
acompanha este processo como vítima de tentativa de homicídio e sobrevivente”,
afirma.
Fernanda relatou a Lewandowski que o atentado de 2018 mudou sua vida para sempre. “Quando você não sabe de onde veio, não sabe do que se proteger”, explica. “Saber que um dos investigados tem foro no STF me causa ainda mais ansiedade, já que trabalho há anos no meio político. Isso significa que circulo entre figuras que podem estar comprometidas no crime.”
A ex-assessora de Marielle aproveitou a
reunião para fazer críticas ao governador Cláudio Castro. Afirmou que as
investigações sofreram interferência política no Rio e só voltaram a avançar no
ano passado, quando a Polícia Federal entrou no caso por ordem do então
ministro Flávio Dino.
“Tinha acabado de ver que o governador havia
chamado as notícias sobre a delação de ‘fofoca jurídica’. O ministro respondeu:
‘Pois é, eu também li essa besteira’”, conta.
Além de mudar sua rotina para seguir
protocolos de segurança, Fernanda passou os últimos anos preocupada com a vida
dos criminosos que tentaram matá-la. Temia que eles fossem alvo de queima de
arquivo para não revelarem os mandantes do atentado.
“A gente nunca saberia quem mandou matar a
Marielle”, afirma. “A violência contra as mulheres na política é uma ameaça
crescente. E a impunidade só encoraja os criminosos que continuam ameaçando
deputadas, vereadoras e militantes”, acrescenta.
No fim da conversa, Lewandowski afirmou que
os mandantes do atentado serão anunciados “em questão de dias”. Depois de seis
anos de espera, a sobrevivente diz que saiu confiante. “Não sei se sou muito
esperançosa, mas sempre acabo criando expectativa.”
Pois é.
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