O Globo
Às vésperas dos 60 anos do golpe de 1964,
Lula informou que não está interessado em “ficar discutindo o passado”. “Isso
já faz parte da História, já causou o sofrimento que causou”, disse o
presidente. “Não vou ficar me remoendo. Vou tentar tocar esse país para a
frente”, acrescentou, em entrevista à RedeTV!.
A declaração agradou militares e ofendeu
parentes de vítimas da ditadura. “É um desrespeito. A reação dos familiares é
essa: um sentimento de traição”, resumiu o músico Leo Alves, neto de
desaparecido político. Seu avô, o jornalista Mário Alves, foi torturado e morto
no DOI-Codi do Rio.
Na cerimônia de posse, Lula foi aplaudido ao repetir o bordão “Ditadura nunca mais”. O discurso animou entidades que defendem os direitos humanos, mas não se traduziu em ações práticas. De concreto, o Exército deixou de comemorar o aniversário do golpe. Não fez mais que a obrigação. Quem vive do dinheiro dos impostos deve obediência à lei e respeito à democracia.
Em janeiro de 2023, o ministro Silvio Almeida anunciou a recriação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, extinta por Jair Bolsonaro. O decreto já foi redigido, mas adormece há mais de um ano nas gavetas da Casa Civil. A paralisia desgasta o titular dos Direitos Humanos e expõe o desdém do presidente pelo assunto.
Criada no governo FH, a comissão ainda teria
muitas tarefas a cumprir. Dezenas de famílias esperam a conclusão de exames de
DNA e a retificação de atestados de óbito. O trabalho está parado desde 2019,
quando o capitão entregou o grupo a extremistas de direita.
Empenhado em não melindrar os quartéis, Lula
afirmou que os generais que estão na ativa eram crianças na época do golpe.
Pode ser, mas as Forças Armadas nunca foram obrigadas a fazer um mea-culpa e
entregar os papéis da repressão.
Ex-preso político, o presidente também disse
estar “mais preocupado” com o que aconteceu em 2023 do que com o que ocorreu em
1964. A frase demonstra uma resistência a aprender com a História. Se o Brasil
tivesse responsabilizado os golpistas do passado, não precisaria se ocupar
tanto com golpistas no presente.
Eu prefiro a sigla FHC a FH.
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