Valor Econômico
Pesquisa Quaest mostra piora de avaliação
entre grupos que sempre apoiaram o presidente
A fotografia parece a mesma de um ano atrás,
mas nos detalhes é que se percebe a perda de brilho e uma certa mudança no
semblante dos personagens.
Os números
da pesquisa Genial Quaest que acabam de sair sobre a aprovação
do presidente Lula e de seu governo são muito parecidos com o retrato
de um ano atrás, quando seu terceiro mandato se iniciou.
Na linha do que o cientista político Felipe
Nunes, diretor da Quaest, e o jornalista Thomas Traumann definiram no seu
livro Biografia do Abismo, a sociedade brasileira está calcificada entre lulistas e bolsonaristas.
De forma geral, o panorama que saiu das urnas em outubro de 2022 continua intacto: Lula tem mais apoio no Nordeste, sua rejeição é menor entre as mulheres e sua aprovação é mais alta entre a população preta, menos escolarizada e com renda familiar mais baixa.
Seus pontos fracos estão justamente
onde Bolsonaro prevaleceu na eleição passada: sulinos e sudestinos,
homens brancos com renda e escolaridade mais alta e – detalhe muito importante
– evangélicos.
Se na big picture nada mudou,
quando se ajusta o zoom é possível perceber pontos de preocupação para o
governo.
De acordo com os dados da Quaest, em relação
a dezembro de 2023, a desaprovação do trabalho de Lula subiu de 41% para
45% entre as mulheres, aproximando-se do índice observado entre os homens
(47%), que sempre foi significativamente mais alto.
Fevereiro também mostra, pela primeira vez,
Lula sendo mais rejeitado (50%) do que consagrado (46%) entre os jovens de 16 a
34 anos. E apesar de contar com uma ampla margem de aprovação entre as
pessoas com menores escolaridade e renda, o descontentamento com o
trabalho do presidente nessas categorias subiu forte: de 32% para 38% no grupo
que possui até o ensino fundamental e de 32% para 36% entre os que recebem até
dois salários-mínimos por mês.
Entre os evangélicos, o salto é o mais alto
desde o início do mandato: a desaprovação pessoal de Lula subiu de 56% para 62%
e a avaliação negativa do seu governo se elevou de 36% para 48% – tudo isso no
curto espaço de tempo entre dezembro de 2023 e fevereiro último.
Embora Lula ainda apareça bem na
foto, segurando uma boa popularidade após o primeiro ano de seu retorno
ao Palácio do Planalto, o esmaecimento de sua imagem revelados pela última
pesquisa Quaest tendem a aumentar a pressão para que seus ministros apresentem
projetos de impacto voltados para grupos específicos.
O lançamento da nova regulamentação para os trabalhadores das plataformas digitais de transporte vai justamente nessa direção, pois atende a um grupo em geral jovem, com poucos anos de estudo e de baixa renda. No mesmo rumo vão as negociações entre o governo e a bancada evangélica no Congresso por um novo pacote de benefícios tributários para as igrejas.
O mais intrigante na deterioração da forma
como Lula e seu governo são avaliados, contudo, é que ela se dá após uma maré
de notícias positivas na economia. O PIB surpreendeu as
expectativas em 2023, crescendo quase 3%, a inflação cedeu de 5,8% em 2022 para
4,6% no ano passado, o desemprego está baixo (7,6%) e a taxa de juros básica da
economia recuou de 13,75% para 11,25% ao ano.
Apesar dos números positivos, a maior parte
dos entrevistados pela Quaest acredita que a economia piorou nos últimos 12
meses (38%, contra 26% que acreditam que ela melhorou). Olhando para frente, os
otimistas em relação às condições econômicas para 2024 recuaram de 55% para 46%
de dezembro para fevereiro, enquanto os pessimistas aumentaram de 25% para 31%.
Esse, aliás, é o paradoxo que vive o ministro
da Fazenda, Fernando Haddad: a despeito de todas as boas entregas
realizadas em 2023, boa parte da população ainda não reconhece que suas
condições de vida melhoraram.
Pode ser apenas uma questão de timing, e com o passar do tempo os louros da boa gestão econômica serão captados pelas pesquisas. Mas esses últimos números ligam um sinal de alerta.
Verdade.
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