Folha de S. Paulo
Políticas de cotas raciais espalham o gás
tóxico do racismo no meio do povo
Cerca de dez anos atrás, um candidato ao
ensino superior que teve sua autodeclaração racial negada por um tribunal
racial ("comissão de heteroidentificação", segundo a novilíngua da
burocracia identitária) solicitou meu auxílio para reverter a sentença. Neste
ano, 204 candidatos à USP recorrem contra negativas similares, inclusive o
pardo Alison Rodrigues, que perdeu a vaga em medicina e ingressou com ação
judicial.
Nenhum deles fez contato comigo, mas atualizo
a resposta pessoal que ofereci no passado. Talvez ela interesse a dezenas de
milhares de jovens, Brasil afora:
Prezado candidato, não posso ajudá-lo. Você entrou num jogo com regras subjetivas, arbitrárias. É impossível comprovar objetivamente sua raça, pois raças humanas não existem.
Políticas de preferências raciais exigem uma
nítida definição da raça de cada indivíduo. Nos EUA, as leis de segregação
racial do início do século 20 solucionaram o "problema": negro é quem
tem uma "gota de sangue" negro. No Brasil, graças à ausência
histórica de leis semelhantes, reconheceu-se a mistura: miscigenação biológica
e mestiçagem cultural. Por isso, quando se introduziram as (mal) chamadas ações
afirmativas raciais, tornou-se necessário criar tribunais raciais: bancas que decidem
visualmente quem é "branco" e quem é "negro" ou
"indígena".
Os autodeclarados pardos formam 45% da
população. Nas estatísticas oficiais, junto com os autodeclarados pretos,
compõem a categoria "negros". Com base nessa falsificação estatal, os
identitários proclamam que os "negros" somam 55% da população. A
alegação só vale na esfera da propaganda: na hora H, plim plim!, os tribunais
raciais transformam os pardos em "brancos". Eles serão
"brancos" para efeito de cotas, mas "negros" para
finalidades discursivas.
O movimento identitário argumentou,
originalmente, que as cotas raciais contribuiriam para a redução do racismo.
Hoje, 20 anos depois, segundo eles, o racismo é mais intenso do que nunca. Daí,
não concluem que o "remédio" fracassou, mas que é preciso dobrar a
dose, torná-lo permanente e, sobretudo, difundi-lo para além das universidades.
Atualmente, o interesse verdadeiro dos ativistas identitários é implantar cotas
no Judiciário, no Legislativo e no aparato da administração pública. Ou seja: abrir
atalhos para suas próprias carreiras profissionais.
A elite política concorda, da extrema
esquerda à extrema direita, com as políticas de cotas raciais no ensino
superior. É que as preferências raciais cumprem a função crucial de mascarar a
paisagem cronicamente desastrosa de nosso sistema público de educação básica.
As crianças e jovens pobres não têm direito a uma escola decente –mas, em
troca, as universidades concedem vagas segundo critérios raciais aos que
tiveram a sorte de cursar escolas públicas melhores. Pão e circo.
Você, candidato excluído, é irrelevante para
a política identitária. Os tribunais raciais são constituídos por militantes do
movimento identitário. Por definição, atribuem marcadores de raça de acordo com
suas impressões, sob a justificativa metafísica de que refletem o "olhar
da sociedade". Na melhor das hipóteses, você será visto como inevitável
dano colateral no caminho que conduz à redenção. Na pior, como um perjuro: um
falseador de sua raça.
As políticas de "cotas sociais"
–isto é, a reserva de vagas para alunos de escolas públicas– não devem ser
condenadas. Idealmente, seriam emplastros provisórios utilizados enquanto o
Estado promove uma reforma radical no ensino público. Contudo, o sistema de
cotas raciais separa, pelo critério da cor da pele, estudantes que cursaram as
mesmas escolas públicas, residem nos mesmos bairros e provêm do mesmo estrato
social. Aí encontra-se o efeito mais perverso e duradouro dessas políticas:
elas espalham o gás tóxico do racismo no meio do povo.
■■É cabal demais o arrazoado de Demétrio Magnolli registrado neste artigo para ser contestado. Em geral Demétrio Magnolli é sempre cabal em tudo que pensa e escreve, porque fundamenta seus artigos e opiniões sempre com o conhecimento formal e sem reinterpretação conveniente de categorias, conceitos e definições.
ResponderExcluir■Gente que foi amalucada por doutrinamento ideológico consegue criar argumentos de conveniência para contestar cientistas como Demétrio Magnolli, mas é gente que se amanhã receber ordem ou estímulo para argumentar o oposto do que disse antes também vai conseguir, na medida em que não se importa de falar e desfalar sem fundamento, estando ou não consciente de suas inconsistências.
■Mas Demétrio Magnolli, se está sempre totalmente baseado em ideias racionais e produzidas pelo conhecimento técnico-formal, nunca faz nenhuma concessão a aspectos políticos (digo aspectos políticos propriamente e não por politiquices como as que o PT faz, porque não se deve mesmo considerar politiquices).
■Eu acho que há aspectos políticos que devem ser considerados, sim, em certos casos do caldeirão étnico brasileiro. E, outro sim, acho que contemplar reprentatividade étnica deve ser para sempre, independentemente de um dia a qualidade de nossa educação melhorar. Nestas duas coisas eu discordo de Demétrio Magnóli.
■De certo modo, embora sempre esteja informado pelo conhecimento técnico-formal, Magnolli acaba incorrendo em limitações políticas de sua própria racionalidade.
■■NÃO HÁ RAÇAS.
ResponderExcluir■Não há raças, decretou a ciência.
■A biologia não conseguiu identificar marcadores naturais que separem a espécie humana Sapiens em subgrupos raciais.
Para considerar um subgrupo racial teria que haver diferenças biológicas suficientes que no caso da nossa espécie não se apresentam. Ficou afirmada pela ciência a existência de uma única raça, Raça Humana., separada por etnias.
=》A separação do ser humano em raças já foi instrumentalizada por eugenistas, com consequências lamentáveis. A ciência ter derrubado o conceito de raça lacrou a possibilidade dessa instrumentalização nefasta.
■■MAS HÁ OS PRETOS E HÁ OS BRANCOS E HÁ OS AMARELOS
■E misturados com isso há os mestiços e há os indígenas.
■Este aspecto étnico Pretos/Brancos/Amarelos é visual e é fácil ser identificado. Se vai viger uma política de cotas étnicas para preenchimento de vagas eu não vejo como evitar que haja um Tribunal de Identificação visual para aplicar o critério já que não há um conceito de raças.
■Fica a complicação de como tratar o mestiço e o indígena. Mas o indígena é de fato um grupo étnico bem definido a ser atendido e o mestiço é apenas o resultado de relacionamentos multiétinicos e é o negro quem, por critério étnico, deve ser contemplado.
■Não sei se Universidades e Judiciário estão aplicando algum critério racial para definição de seres humanos. Se estiverem aplicando critério racial estão em desconformidade com a ciência e, portanto, fora de um fundamento legal válido.
■POLÍTICAS SOCIAIS SÃO NECESSÁRIAS
■POLÍTICAS DE COMBATE AO RACISMO SÃO NECESSÁRIAS
■POLITICAS DE VALORIZAÇÃO SOCIAL DE GRUPOS SUB-REPRESENTADOS SÃO NECESSÁRIAS
■O preto e o indígena são os que devem ser priorizados para efeito de aumento de representatividade étnica no Brasil, e as vagas devem guardar a proporção nacional e regional da presença da etnia. Mas não vejo como atender a um critério étnico que não siga uma proporção de representatividade que inclua amarelos, e aqui entra a complicação de como atender o grupo indigena, que por cor é etnicamente amarelo.
O critério para identificar o preto, o amarelo e o branco é visual, já que não há um marcador biológico que o defina.
=》Assim, só havendo um Tribunal de Identificação para aplicar o critério.
■A atual Política de Cotas está causando aumento de discriminação e natureza racialista e deve mudar mesmo:: não faz sentido nenhum manter uma política pública que está intoxicando a sociedade. Manter um critério tóxico só vai favorecer os que querem de um e de outro lado problematizar a questão para tirar proveito politiqueiro.
■A questão do complicador que é incluir mestiços e indígenas é que deve ser resolvida. A falsificação de juntar Mestiços e Pretos em um grupo único denominado "negros" é artificial e deve ser descartada por só estar causando danos e aumentando a confusão.
Uma talvez fácil forma de contemplação de indígenas e mestiços seja apenas localizá-los no critério unicamente social das cotas, e só contemplar nas cotas quem também atenda a um critério social para ser contemplado:: não faz nenhum sentido que o filho de um preto rico seja contemplado. O filho do preto rico, sendo ele preto, sofre discriminação como qualquer outro. Mas um sistema de cotas não deve existir como resposta a discriminação racial, que raça não existe. O sistema de cotas deve responder à representatividade proporcional étnica na sociedade.
Xuíter :: edson_pianca
■,Assim, teríamos, acompanhando uma proporção regional e não necessariamente nacional::
Excluir● Cota para PRETOS.
● Cota para INDÍGENAS.
●Cota para AMARELOS.
● Cota para POBRES (contemplando aqui brancos e mestiços).
Um elefante não consegue cruzar com uma vaca,o ser humano branco,negro,indígena e amarelo cruzam sem parar,rs.
ResponderExcluirO colunista MENTE quando afirma não existirem raças humanas. Existem raças caninas, equinas, de plantas... E também humanas.
ResponderExcluirHá 2 fato que contribuem pra que esta discussão seja cientificamente indefinida, tendo muitos cientistas contrários à ideia de raças humanas, e muitos outros reconhecendo a existência delas:
1) não existirem critérios consensuais pra definir se certas pessoas são de uma ou outra raça, e
2) o fato de nem todos os humanos poderem ser bem classificados numa ou noutra raça.
Mas uma grande parte dos humanos é razoavelmente classificável numa raça, e isto tem sido usado, de forma prática e pragmática, para políticas de cotas e tentativas de reparação de crimes ou malefícios anteriores sofridos por grupos/raças em geral minoritários ou muito perseguidos historicamente.
Infelizmente, o colunista preconceituoso e MENTIROSO é contra as políticas de cotas e, por extensão, prefere rejeitar as raças humanas pra melhor embasar suas escolhas IDEOLÓGICAS.