Folha de S. Paulo
O embate ideológico distrai, mas o combate ao
crime é também defesa da democracia
A prisão dos
suspeitos de mandarem matar Marielle
Franco é uma síntese, embora incompleta, da infiltração do
crime organizado nas instituições públicas: um deputado federal, um conselheiro
de tribunal de contas e um delegado ex-chefe da Polícia Civil do Rio de
Janeiro.
A coisa vai além. A despeito do muito bem-vindo desfecho do caso, não há que se falar em triunfo do Estado. Este segue desorganizado frente à crescente estruturação da criminalidade no país, sendo o Rio o exemplo mais visível. Ali atuam várias famílias que mandam e desmandam na política, algumas com ligações criminosas.
Os irmãos Brazão,
Francisco e Domingos, respectivamente deputado e conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado, foram pegos, mas outros tantos seguem atuantes e continuarão
no controle de votos que resultam na dominação de territórios.
Agirão de maneira incisiva nas eleições
municipais, a fim de ampliar a teia da contaminação. Todas as instâncias de
governo sabem disso porque nada é feito às escondidas. Como ficou demonstrado
na obstrução das investigações dos assassinatos de Marielle e Anderson Gomes, o
poder local não dá conta da situação.
A crise de
insegurança que apavora o Brasil requer compreensão mais ampla.
A de que estamos diante de um problema de segurança nacional e institucional.
Cenário tão ameaçador à saúde democrática como aquele em que foi debelada a
tentativa de um golpe de Estado.
As autoridades reagiram com firmeza quando a
democracia foi posta em xeque, com apoio da sociedade afeita aos valores da
legalidade. Urge que empenho semelhante se concentre no tema que ocupa o topo
das preocupações da população.
O embate ideológico distrai, mas na realidade
do cotidiano as pessoas querem mesmo é saber o que as forças municipais,
estaduais e federais se dispõem a fazer para assegurar um mínimo aceitável de
segurança sejam quais forem as atribuições constitucionais de cada um.
Verdade.
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