Folha de S. Paulo
Vivi a ilusão de que o machismo não me
atingia, até que atingiu
Durante muito tempo vivi a ilusão de que o
machismo não me atingia, num misto de arrogância e negacionismo que fui
obrigada a reconhecer para depois abandonar porque vi: a coisa só não me
alcançaria até que alcançou.
Hoje, em retrospectiva e cada vez mais
percebo a presença do menosprezo à mulher, apenas por sua condição feminina. Há
léguas a percorrer antes que possamos descansar num ambiente de igualdade real,
efetiva, reconhecida e, sobretudo, praticada.
Vinha poderosa na carreira sem maiores obstáculos até me deparar com o parceiro supostamente encantado exatamente pelo sucesso profissional daquela nova companheira tão bem-sucedida.
Difícil detectar os primeiros sinais, por
sutis. Começa pelo controle travestido de cuidado amoroso. "Chegou em
casa?", "avisa quando o avião pousar", "chega a que
horas?". Nunca tinham me feito essas perguntas. Estranho, mas pode ser
amor ao qual você não está acostumada.
Engano. Quando for assim, o melhor é ouvir o
coração ao qual não dei atenção mesmo quando solicitada a submeter meu trabalho
ao crivo do homem. "Para sua proteção", era a justificativa fofinha.
Protegê-la também de seus desejos: dançar,
viajar, estar com amigos, fazer contato público com potenciais fontes, defender
posições em rodas profissionais. Tudo é interditado de modo sub-reptício, de
maneira mansa. Até o dia em que a coisa se mostra escancarada e a gente liga o
nome à pessoa.
Nessa hora, o que fazer? Tentar dar um reset
na cabeça do indivíduo, reclamar, se revoltar? Nada disso: cair fora da roubada
é o melhor e único remédio, cuja bula recomenda olho vivo e faro fino para
nunca mais repetir.
■É... aqui o babado foi forte!
ResponderExcluir●Mas ela, no seu dia,...vomitou o babado!
ExcluirSe mulher sofre preconceito,imagine as bichas?
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