O Estado de S. Paulo
Dificilmente a reforma tributária será regulamentada em 2024. Culpa do governo e Congresso
Assim como o governo prometeu e dificilmente
entregará o déficit zero em 2024, vai ficando cada vez mais difícil, deslizando
para o improvável, a votação da regulamentação da reforma tributária. Tão
louvada, a reforma pode chegar incompleta a 2025 e a culpa é tanto do governo
quanto do Congresso, que insiste em guerrear também com o STF e contra a
própria imagem.
O governo tem culpa por ter perdido o timing.
Fernando Haddad, da Fazenda, ficou confrontando o Congresso com a MP que
reonerava a folha de pagamentos e o setor de eventos, foi obrigado a recuar dos
dois e negligenciou a regulamentação da reforma tributária. Agora, Haddad
promete enviar os projetos de regulamentação da reforma até o fim de março,
mas...
Depois da abertura do ano legislativo, veio carnaval, agora vêm Semana Santa, janela para troca-troca de partidos sem punição e desincompatibilização de prefeitos e ministros candidatos em outubro. E tem mais: festas de São João em junho e julho, atraindo bancadas inteiras, principalmente do Nordeste, e começa o recesso de julho.
E quando votar? Se não for agora, no segundo
semestre vai ficar tão ou mais difícil, justamente por causa das eleições.
Assim, a reforma, se andar, será entre o segundo turno e o Natal. Isso, claro,
se houver boa vontade dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, do Senado,
Rodrigo Pacheco, e dos líderes.
O governo errou com a demora e o Congresso
faz birra, como aprovar a deputada considerada mais radical da oposição,
Caroline de Toni (SC), para a presidência da “mãe das comissões”, a CCJ, e o
deputado e “influencer” Nikolas Ferreira (MG) para a de Educação. Lira lavou as
mãos, usando uma comparação que fez para Lula na última conversa olho no olho:
a de que age como um presidente de sindicato (que Lula conhece bem) e tenta
convencer os “sindicalizados”, mas é obrigado a acatar decisões e regras: o PL
tem o maior número de deputados, logo, direito a escolher as comissões.
Objetivamente, sim, mas Lira, quando quer, é
muito convincente e soube atrair o Centrão para a aprovação da pauta econômica
do governo no ano passado. Como vai sair da presidência em 2025 e não abre mão
de fazer o sucessor, agora está mais preocupado em atrair PL e Centrão para
seus próprios projetos do que para a pauta do governo. E exige o fim do veto às
emendas de comissão.
O Congresso está um caldeirão fervendo, com a
Câmara nomeando nomes absurdos para postos-chave e pressionando Lula, enquanto
o Senado confronta o STF pela distinção entre porte e tráfico de maconha. A
pauta econômica está em risco e a vítima não é Haddad, Lula ou o governo, mas o
País.
Alguém,enfim,escreve País com P maiúsculo,como eu,rs.
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