Cessar-fogo já entre Israel e Hamas
Folha de S. Paulo
Legítimo na origem, como resposta ao
terrorismo, conflito deve parar devido ao número de mortos e à disparidade de
força
Na quinta (29), militares
israelenses atiraram contra palestinos durante distribuição de comida em
Gaza, deixando mais de uma centena de mortos, segundo o Hamas, ou 10 vítimas,
de acordo com Israel, em novo episódio lamentável de uma guerra sangrenta e
desigual.
O incidente, que ainda tem de ser mais bem
esclarecido, evidencia um dos aspectos cruéis do atual conflito: a assimetria
no número de vítimas entre os dois lados.
O ato selvagem do grupo terrorista palestino,
que deu origem à nova fase da guerra interminável na região, matou 1.269
pessoas, entre elas mulheres e crianças, no maior ataque sofrido por Israel;
dos 253 sequestrados, bebês inclusive, muitos continuam desaparecidos.
A reação militar que se seguiu, justificável na origem, escalou para uma mortandade sem precedentes no conflito israelo-palestino, embalada pelo gabinete de extrema direita de Binyamin Netanyahu. Segundo autoridades palestinas, já são 30 mil os mortos em Gaza, a maioria mulheres e crianças.
Isso representa uma morte para cada 73
habitantes da população de 2,2 milhões. Significa também que Israel matou mais
de 23 palestinos para cada vítima do ataque terrorista. Os números são
contestados por Tel Aviv, mas podem até estar subestimados. Mais de 500 mil
estão sujeitos à fome, enquanto Israel dificulta a ajuda humanitária.
Guerras assimétricas geram número assimétrico
de vítimas, argumentam os defensores da atual ofensiva israelense. É verdade. O
ataque do 11 de Setembro de 2001 deixou 2.996 mortos nos Estados Unidos; a
Guerra do Afeganistão, reação norte-americana àquele ataque terrorista, já
matou 243 mil afegãos —81 por morto original.
A diferença é que o conflito Israel-Hamas se
dá entre o governo de um país estabelecido, com Forças Armadas e instituições
democráticas, e uma facção que se instalou no comando de um enclave dentro
desse próprio país.
É como se os EUA tivessem ido à guerra não
contra o Afeganistão, então comandado pelo Talibã e guarida de Osama bin Laden,
mas contra Nova Jersey, vizinha de Nova York. O desastre humanitário atual é
consequência direta dessa proximidade territorial e da disparidade bélica e
tecnológica.
Esta Folha defende a ideia de criar
um Estado palestino que conviveria com Israel, a chamada
solução de dois Estados, a mais viável para pacificar o Oriente
Médio.
Para que isso venha a ocorrer, o cessar-fogo
e o acesso do socorro humanitário precisam ser obtidos já, com apoio do
Ocidente e liderança da Casa Branca, na figura de Joe Biden. Na sequência, o
Hamas deveria depor armas, e o gabinete de Netanyahu, renunciar.
A cada evento como o de quinta-feira, porém,
as duas últimas ações parecem mais quiméricas.
Retrocesso à espreita
Folha de S. Paulo
Fala absurda sobre a Vale mostra que ideário
primitivo do PT espera oportunidade
O pragmatismo e a racionalidade têm
prevalecido, até aqui, na política econômica do terceiro mandato de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). A agenda do retrocesso, entretanto, está sempre à espreita.
As declarações de Lula são especialmente
reveladoras a esse respeito —e sua mais
recente e estapafúrdia investida contra a Vale mostra de modo
assustador o primitivismo de seu ideário.
"A Vale não pode pensar que ela é dona
do Brasil, não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então o que nós
queremos é o seguinte: empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo
que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro", pontificou o
líder petista, em entrevista à RedeTV.
No raciocínio tortuoso, quem parece
reivindicar a condição de dono do país é o próprio Lula. Sua tese já seria ruim
se dissesse respeito a uma empresa controlada pelo Tesouro Nacional.
Tratando-se de empresa privada e, pior, do conjunto das empresas brasileiras, está-se
diante de um disparate perigoso.
A experiência não permite tomar a afirmação
como mais uma das bravatas do mandatário. Administrações petistas já fizeram
pressões variadas sobre a Vale, chegando a influenciar na troca de comando da
gigante mineradora.
Mais recentemente, o governo flertou
abertamente com a pretensão de
conduzir o ex-ministro Guido Mantega, partícipe da ruína econômica
de Dilma Rousseff (PT), a um posto elevado na empresa.
Privatizada em 1997, a Vale hoje é menos
permeável ao mandonismo governamental devido à pulverização de seu capital
acionário. Ainda assim, opera mediante concessão em um setor fortemente
regulado. Quando quer, o Estado encontra meios de intervir com mão pesada em
atividades privadas.
Não se discute que o mercado deve estar
submetido a regras que protejam os interesses da sociedade. Quando o governo se
mete a interferir em decisões de negócios, entretanto, quase sempre sabota a
eficiência empresarial e a produtividade —para nem falar da impessoalidade da
gestão pública.
PEC da Blindagem é perda de tempo dos
parlamentares
O Globo
Tentar protegê-los do alcance da lei fere
Constituição e drena energia. Rodrigo Pacheco acerta ao refutar ideia
A tentativa em curso no Congresso de blindar
deputados e senadores do alcance da Justiça é contrária ao bom senso, à
determinação constitucional de que todos são iguais perante a lei e aos
interesses do Brasil. Líderes de diferentes partidos na Câmara têm aventado
ideias descabidas para uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
sugestivamente apelidada “PEC da Blindagem”. Entre elas, condicionar
investigações policiais à aprovação do Parlamento, garantir que
parlamentares investigados tenham acesso irrestrito aos inquéritos (inclusive a
trechos sigilosos), dificultar a prorrogação de investigações,
proibir operações de busca e apreensão nas dependências do Congresso e tirar do
âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento de parlamentares. O
projeto tem tudo para virar sinônimo de leniência.
Como vários outros países com histórico de
regimes autoritários, o Brasil adotou práticas necessárias para proteger o
exercício parlamentar. A memória de perseguições arbitrárias no período da
ditadura despertou a preocupação de garantir a segurança do mandato. As
prerrogativas parlamentares destinadas a proteger o livre exercício da
representação popular são fundamentais. Mas ninguém deve estar acima da lei,
sobretudo na esfera criminal. Cargos no Executivo ou no Legislativo não são um
santuário para quem é alvo de investigação. Por isso a tentativa de blindá-los
não tem o menor cabimento.
Ela ganhou tração depois de o STF autorizar
medidas contra os deputados Carlos Jordy (PL-RJ),
acusado de envolvimento no 8 de Janeiro, e Alexandre
Ramagem (PL-RJ), por suspeitas relacionadas ao período em que
ele comandou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Mesmo diante da
gravidade das acusações, seus apoiadores querem que deixem de ser julgados pelo
STF. Levar os casos à primeira instância seria uma saída casuística para
escapar do rigor adotado pelo Supremo nesses casos e uma maneira de protelar
futuras investigações e condenações.
Outras ideias aventadas para a PEC da
Blindagem, se aprovadas, certamente seriam julgadas inconstitucionais. O fim do
sigilo sobre as investigações inibiria a produção de provas. Condicionar o
início das investigações à aprovação do Congresso tornaria os parlamentares
intocáveis, restringindo a independência da Justiça.
Em 2021, depois da prisão do então deputado
Daniel Silveira (PSL-RJ), parlamentares tentaram passar medida semelhante, mas
a ideia foi abandonada diante da pressão popular. Deveria ser esse também o
destino da PEC da Blindagem. O presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já se declarou contra a proposta. Ele
tem razão.
O Congresso deveria se preocupar com uma agenda construtiva para o país em áreas como educação, segurança e economia, e não em proteger os parlamentares de investigações da Justiça. Não há a menor justificativa para blindar quem quer que seja na sociedade brasileira, muito menos quem exerce mandato parlamentar. Apenas dois em dez brasileiros avaliam positivamente o trabalho dos congressistas. Se a ideia de blindá-los for adiante, o principal efeito será acentuar essa histórica deficiência de imagem.
Suprema Corte definirá extensão da liberdade de expressão em redes
sociais
O Globo
Flórida e Texas limitam moderação de
conteúdo, impondo riscos para democracia e saúde pública
A Suprema Corte dos Estados
Unidos começou a examinar um processo que definirá o papel do
poder público ao disciplinar as redes sociais e influenciará decisões mundo
afora. Estão em questão leis da Flórida e do Texas que tentam restringir o
poder das plataformas de moderar conteúdo.
Políticos republicanos dos dois estados
acusam as plataformas de usar a moderação como forma de censura e decidiram
proibi-la. A lei do Texas barra a remoção de posts ou contas com base em pontos
de vista. A da Flórida nega a prerrogativa de suspender contas de candidatos ou
publicações de organizações de imprensa. Na memória dos conservadores, está o
bloqueio da conta de Donald Trump no X (na época Twitter) depois dos ataques ao
Capitólio no 6 de janeiro de 2021.
Os representantes das plataformas argumentam,
com razão, que elas funcionam como veículos de comunicação, por isso têm o
direito de editar o conteúdo divulgado. “Assim como o estado da Flórida não
pode dizer ao New York Times que artigos de opinião deve publicar ou à Fox News
que entrevistas exibir, também não pode definir que conteúdos Facebook ou
YouTube podem disseminar”, afirmaram.
Para os representantes dos estados, é preciso
interpretar sem filtro a Primeira Emenda da Constituição, que garante a
liberdade de expressão. De acordo com eles, as plataformas não são similares a
jornais, mas a companhias telefônicas, que têm a obrigação de transmitir
qualquer mensagem independentemente do conteúdo.
Paradoxalmente, esse sempre foi o argumento
usado pelas próprias plataformas para se esquivar de qualquer legislação
impondo obrigações às redes sociais. Se a Suprema Corte lhes der razão, negará
aos representantes eleitos o poder de regular o discurso na internet. Se, ao
contrário, der razão aos dois estados, elas funcionarão como um vale-tudo, com
incentivo à circulação de mentiras, conspirações e calúnias, gerando riscos
evidentes em esferas que vão da política à saúde pública.
Se evidentemente é preciso respeitar a
liberdade de expressão na maior extensão possível, é temerário deixar a cargo
de duas ou três gigantes digitais a decisão sobre como deter o discurso de ódio
ou a desinformação. A situação é ainda mais desafiadora com o advento da
inteligência artificial.
A solução mais sensata para o dilema foi dada pela União Europeia – e tem inspirado as iniciativas no Brasil. Regular as plataformas é necessário e urgente, pois seus esforços de moderação têm sido insuficientes. A elas deve ser atribuído o “dever de cuidado” pelo que fazem circular, para que as leis vigentes no mundo off-line também sejam respeitadas no on-line. É esse o espírito do Projeto de Lei da Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, apelidado PL das Fake News, que já deveria ter sido aprovado no Congresso. Assim como os veículos de comunicação, as plataformas devem ter um compromisso com a verdade e a responsabilidade — e devem ser cobradas por isso.
O apocalipse segundo Michelle
O Estado de S. Paulo
Ao tratar a política como guerra santa entre
o ‘bem’ e o ‘mal’, como fez na Paulista, a ex-primeira-dama deixa claro que
espera dos fiéis da seita bolsonarista fé absoluta em seu marido
No discurso de abertura da manifestação
bolsonarista de domingo passado, Michelle Bolsonaro tratou como um triunfo do
“mal” o fato de haver no Brasil a devida separação entre política e religião.
“Por um tempo, fomos negligentes ao ponto de dizer que não poderiam misturar
política com religião”, disse a ex-primeira-dama. “E o mal tomou, e o mal
ocupou o espaço. Chegou o momento, agora, da libertação. ‘Conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará’”, concluiu Michelle, reproduzindo o
versículo da Bíblia que serviu como mote da campanha de seu marido à
reeleição.
Ao questionar a laicidade do Estado, a
ex-primeira-dama explicitamente atenta contra essa conquista civilizatória da
sociedade brasileira, que remonta ao fim do século 19, e é uma das cláusulas
pétreas da Constituição de 1988. Nada disso causa surpresa nem é novidade, dada
a sistemática campanha do bolsonarismo para transformar os anseios cristãos,
particularmente evangélicos, em arma política. Mas o apelo escatológico de
Michelle Bolsonaro neste momento sugere que o bolsonarismo pretende
caracterizar as agruras do ex-presidente Jair Bolsonaro na Justiça como parte
da luta do bem – Bolsonaro, é claro – contra o mal, isto é, o Supremo Tribunal
Federal e, particularmente, o ministro Alexandre de Moraes.
Ao trazer explicitamente a questão política e
jurídica para o terreno do fundamentalismo religioso, o bolsonarismo não admite
heresias: para ter a bênção de Bolsonaro, é preciso demonstrar fé inabalável em
sua doutrina e em seu evangelho. Quando diz e repete que ganhou a eleição de
2022, Bolsonaro não precisa apresentar provas: por sair da boca de um sujeito
que se julga escolhido por Deus, sua palavra basta.
“Aprouve ao Senhor nos colocar à frente desta
nação. Aprouve a Deus nos colocar na Presidência da República”, disse Michelle
na manifestação. Portanto, conforme essa exegese, se Deus pôs, só Deus poderia
tirar. Não à toa, uma pesquisa da USP com participantes da manifestação
bolsonarista mostrou que, para nada menos que 88% dos entrevistados, Jair
Bolsonaro venceu a eleição de 2022 e só não foi empossado porque uma fraude o
impediu. Sem qualquer respaldo em fatos concretos, tal conclusão só pode ser
resultado de fé absoluta, a mesma que move os 94% dos presentes que, conforme a
mesma pesquisa, disseram acreditar que o Brasil vive sob uma “ditadura” em
razão do que qualificam como “excessos e perseguições” da Justiça. O fato de
que participavam de uma manifestação política de oposição ao atual governo sem
serem incomodados pelas forças do Estado, algo que por si só desmente a
conclusão de que vivemos sob uma “ditadura”, não parece ter sido suficiente
para importar alguma dúvida – prevaleceu a certeza mística produzida pelo
bolsonarismo radical.
Diante disso, a aposta de Michelle numa
abordagem sobrenatural e escatológica, numa ideia de que estamos testemunhando
a luta final do “bem” contra o “mal”, como se a política fosse uma guerra santa
de aniquilação, revela-se muito eficaz, sobretudo diante do iminente encontro
de Bolsonaro com seu inexorável destino jurídico-penal. Nada, pois, é fortuito.
O fanatismo religioso é, por óbvio, a negação
da política. Para os fanáticos, não há adversários políticos a contestar, e sim
inimigos demoníacos a eliminar. Não existem dúvidas, apenas certezas,
estabelecidas por Deus por intermédio de seus profetas iluminados. O apelo ao
mistério é a repulsa aos fatos, sobre os quais é preciso haver consenso mínimo
para estabelecer qualquer forma de diálogo. A prevalecer o místico –
instrumentalizado por lideranças políticas ou partidos de quaisquer inclinações
ideológicas –, tem-se o fim da concertação civilizada entre os interesses em
disputa numa sociedade plural e democrática. Certamente é isso o que pretendem
os fanáticos bolsonaristas, e é contra isso que devem lutar os que prezam a
democracia e a liberdade.
Farda não é licença para matar
O Estado de S. Paulo
Julgamento no STM dos militares que fuzilaram
dois inocentes no Rio em 2019 aponta para a prevalência do espírito de corpo
sobre a necessidade de punição exemplar para um crime brutal
Começou mal no Superior Tribunal Militar
(STM) o julgamento dos oito militares do Exército que fuzilaram dois homens
inocentes em Guadalupe, zona norte da cidade do Rio, durante a intervenção
federal na segurança pública do Estado, em 7 de abril de 2019. Conhecidos os
votos dos ministros relator e revisor do caso na Corte, o que se tem até o
momento é a prevalência do espírito de corpo sobre a imperiosa necessidade de
punir um crime brutal com o máximo rigor.
Na ocasião, convém recordar, uma patrulha
comandada pelo tenente Ítalo Nunes disparou nada menos que 257 tiros de fuzil
na direção do carro em que viajavam o músico Evaldo Rosa, sua mulher, seu
sogro, o filho menor do casal e uma amiga – todos a caminho de um chá de bebê.
Diante do desespero da família ao constatar que Evaldo fora atingido pela
saraivada de balas, Luciano Macedo, um catador de recicláveis que trabalhava no
local, correu em socorro das vítimas e também foi morto.
Tão bárbaro foi o crime – revelador da
temeridade que é dar às Forças Armadas a missão de servir como polícia em ações
de segurança pública – que, em 2021, a Justiça Militar de primeira instância
condenou o tenente Nunes a 31 anos e 6 meses de prisão. Seus sete subordinados
foram condenados a pena um pouco menor: 28 anos de cadeia cada um. Todos em
regime fechado. O advogado dos réus recorreu, alegando que os militares agiram
em “legítima defesa”, e o caso chegou ao STM.
Em Brasília, o ministro relator, Carlos
Augusto Oliveira, acolheu o argumento da defesa. O ministro votou pela
absolvição dos réus pela morte de Evaldo Rosa e pela desclassificação de
homicídio doloso para homicídio culposo no caso de Luciano Macedo, o que
reduziu drasticamente as penas impostas ao tenente Nunes (3 anos e 7 meses de
prisão) e aos seus subordinados (3 anos de prisão) – e todos em regime aberto.
O voto do relator foi seguido pelo ministro revisor, José Coêlho Ferreira.
A versão segundo a qual os militares
comandados pelo tenente Nunes não tiveram a intenção de matar Evaldo e Luciano
chega a ser ofensiva à inteligência alheia, à memória das vítimas e aos
sentimentos de seus familiares. Uma tempestade de chumbo na direção de um carro
– dos 257 tiros de fuzil, 80 atingiram o veículo – não se presta à advertência
nem à defesa, sobretudo quando se sabe que do carro da família não partiu tiro
algum.
Evaldo e Luciano, segundo os dois ministros
do STM que votaram até agora, foram atingidos no momento em que os militares
trocavam tiros com criminosos, após tentarem impedir um assalto. “Infelizmente,
durante o embate com os assaltantes, um dos projéteis atingiu o veículo do sr.
Evaldo Rosa, causando uma das lesões que pode ter o levado à morte naquele
instante”, disse o ministro relator em seu voto. O carro, então, teria parado e
uma segunda rajada de balas foi disparada, desta vez matando Luciano Macedo.
A perícia constatou que Evaldo Rosa recebeu
nove tiros de fuzil. Mas, para o relator do processo no STM, a causa da morte
do músico teria sido o primeiro tiro – disparado, portanto, no contexto da
“legítima defesa” durante a suposta retaliação aos assaltantes. Nesse sentido,
o magistrado chegou à conclusão que acusar os militares por homicídio doloso
seria um “crime impossível”, haja vista que Evaldo já estaria morto quando os
militares abriram fogo pela segunda vez e, ao fim e ao cabo, atingiram o catador
de recicláveis, sem a intenção de matá-lo.
Roga-se aos demais ministros do STM que
revertam esse entendimento que, a um só tempo, desmoraliza a Justiça Militar e
impinge mais sofrimento aos familiares das vítimas. Na prática, está-se
tratando Evaldo e Luciano como dois azarados. O desdém com que suas vidas foram
tratadas por dois ministros da mais alta instância da Justiça Militar se
desvela como espécie de punição post mortem, simplesmente por estarem “no
lugar errado, na hora errada”.
A prevalecer a impunidade, os brasileiros
terão razão de sobra para sentir medo sempre que cruzarem o caminho de uma
patrulha de militares.
PT, peão de Putin
O Estado de S. Paulo
Enquanto Lula evita criticar Putin, o tirano
russo usa os petistas para chancelar sua ditadura
O PT tem um encontro marcado neste mês com a
“democracia” russa – aquela em que Vladimir Putin, há quase 24 anos no poder,
vai atrás do seu quinto mandato com a garantia absoluta de vitória, já que
estão fora do páreo – presos, assassinados ou proscritos – quase todos os
principais líderes de oposição.
Como mostram diversas denúncias a cada
disputa, as eleições russas não são nem livres nem justas, imersas em suspeitas
de fraude e falta de transparência. Também pairam as sombras produzidas pelo
histórico de sufocamento de dissidentes e críticos ao governo e pela tenebrosa
frequência de mortes de opositores – o último deles Alexei Navalny, que morreu
na prisão onde cumpria pena. E convém lembrar ainda que diversos relatórios
apontam crimes de guerra e violações gravíssimas cometidas por forças russas no
conflito com a Ucrânia.
Nada disso, porém, arrefece o ânimo do
partido de Lula da Silva com as eleições na Rússia, muito menos a aliança
tácita entre os dois presidentes. Segundo informou a Folha, o PT acaba de
ser convidado pelo partido de Putin, o Rússia Unida, para acompanhar a eleição
presidencial. É a reafirmação de uma relação mais estreita do que já sugerem as
erráticas intervenções públicas de Lula em favor do colega russo. Seria uma surpresa
se o PT, como “observador” da eleição, denunciasse alguma das muitas e
previsíveis irregularidades que qualquer um seria capaz de perceber. Na
prática, portanto, o partido de Lula fará o que dele se espera, isto é,
atestará a “lisura” de uma eleição fajuta.
É esse o tipo de disputa que o PT foi
convidado a chancelar. Putin controla o poder na Rússia desde 2000. O grave,
porém, é menos a longevidade e mais o fato de estar continuamente reescrevendo
as regras do sistema político para expandir seus poderes. Para tanto, recorre
não só aos seus conhecidos métodos internos para preservar o poder, mas busca
também usar peões úteis para o xadrez de suas ambições internacionais. Lula da
Silva é um desses peões.
Basta ver a retórica e a prática
antiamericanas e terceiro-mundistas escondidas sob o manto de um
multilateralismo de conveniência. Lula e o PT acabam servindo de correia de
transmissão dos interesses russos e chineses contra os Estados Unidos e a
Europa. Não é à toa a defesa que Lula faz de Putin e seu silêncio diante da
criminosa agressão russa à Ucrânia – Lula, ao contrário, teve a pachorra de
igualar os agredidos ucranianos e os agressores russos. Além disso, o chefão
petista, a propósito da morte do oposicionista Navalny num gulag russo,
criticou a “pressa” em condenar Putin e pediu “bom senso” – o mesmo que o PT
nunca teve quando se trata de condenar os “imperialistas” ocidentais.
No ano passado, comissários petistas estiveram em Moscou a convite do partido de Putin, num encontro cuja pauta era o “neocolonialismo ocidental”. Neocolonialismo é o adorno conceitual usado por esses países para promover a versão atualizada da guerra fria: contra o imperialismo e o colonialismo norte-americano e europeu, a saída é o bloco liderado por Rússia e China. Nada mais é, porém, do que um sintoma da doença infantil do esquerdismo deste século 21.
Investimentos e juros em queda
Correio Braziliense
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB), a
soma de todas as riquezas produzidas pelo país, em 2023 foi positivo
Boas notícias são sempre muito bem-vindas.
Mas os riscos de se deixar inebriar por elas podem resultar em sérios problemas
mais à frente. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as
riquezas produzidas pelo país, em 2023 foi positivo. O crescimento chegou a
2,9%, quando, no início do ano, a previsão era de minguado 0,8%. Uma leitura
mais profunda do desempenho da atividade, porém, traz preocupações que não
podem ser desconsideras. Muito pelo contrário, devem servir de alerta para os desafios
que estão colocados para o Brasil garantir avanços consistentes no futuro.
O alerta mais contundente dentro das boas
notícias do PIB é a queda de 3% nos investimentos, a Formação Bruta de Capital
Fixo. Não há como se falar em crescimento sustentado ao longo do tempo sem que
a capacidade de produção do país seja ampliada. Se o consumo das famílias e do
governo sobe, é fundamental que haja oferta de produtos para atender a essa
demanda. A falta de mercadorias resulta em mais inflação e, por tabela, juros
mais altos. Tudo o que governo e população assistiram ao longo de vários anos e
ninguém quer que se repita.
Mas, para retirar projetos da gaveta e
investir na expensão das fábricas, os empresários precisam de duas palavras
básicas: confiança e previsibilidade. Ou seja, a certeza de que não haverá
estripulias na economia, que possam resultar em mais inflação, e que os
consumidores terão capacidade de suprir as suas necessidades. A taxa de
investimentos encerrou 2023 em apenas 16,5% do PIB, quando, para crescer, em
média, 5% ao ano, esse indicador necessita ser de ao menos 25% da soma das
riquezas. Um país sem investimentos está fadado a eternos voos de galinha.
Outro dado a ser considerado é o desempenho
da indústria, setor da economia que mais agrega tecnologia e inovação. No
indicador geral de 2023, a indústria avançou 1,6%, mas esse resultado se deveu,
basicamente, às atividades extrativistas. A indústria de transformação,
responsável por mercadorias de alto valor agregado, tombou 1,3%. As exportações
só saltaram 9,1% por causa do desempenho magnífico da agropecuária, com
incremento recorde de 15,1%. Esse quadro reforça a tese de que o país está
dependente de produtos primários, o que o amarra à condição de ser uma nação de
renda média.
Portanto, está nas mãos do governo e do
Congresso criarem as condições para que o Brasil possa superar os gargalos que
travam a atividade, seja garantindo a estabilidade econômica, seja evitando
conflitos políticos. Em um ambiente favorável aos negócios, a desconfiança
perde força e os pilares que sustentam o crescimento se fortalecem. Os
indicadores, neste início de 2024, estão mais favoráveis do que no mesmo
período do ano anterior: a inflação está rodando em torno da meta perseguida
pelo Banco Central, de 3% ao ano; as taxas de juros vêm caindo desde agosto
último, podendo ficar abaixo de 9%; o mercado de trabalho se mostra resiliente;
e há um compromisso com o equilíbrio das contas públicas.
São esses fatores que têm estimulado os especialistas a revisarem para cima as estimativas de crescimento para o PIB. Agora, as projeções estão encostando em 2%, o que não é nenhum motivo para comemoração, mas é um alento no sentido de que o Brasil pode, mais uma vez, surpreender favoravelmente. O jogo já começou. No segundo semestre do ano passado, a atividade parou, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contudo, diante das condições favoráveis que se consolidam — a principal delas, a continuidade da queda dos juros —, os seis meses finais de 2024 tendem a ser de reativação. Investimentos e consumo das famílias devem movimentar as máquinas, alimentadas por crédito mais acessível e barato. Todos sabem o dever de casa. Basta segui-los à risca para que o resultado final seja o que todos esperam: crescimento consistente e melhores condições de vida para a população.
Magnífico o Editorial da Folha de SP sobre o conflito na Faixa de Gaza, onde os militares israelenses MASSACRAM milhares de civis palestinos, num conflito ALTAMENTE ASSIMÉTRICO, como tão bem detalha o texto.
ResponderExcluirDaniel é pro Hamas,Russia. Daniel é a voz oficial do PT aqui.
ResponderExcluirAssimétrico é seu cérebro delirante.
MAM
Assimetria é disfarce de quem é anti Ocidente. Até porque, deveriam definir a proporção simétrica aceitável. Mas são canalhas.
ResponderExcluirMAM