Folha de S. Paulo
Investimento produtivo foi dos mais baixos do
século e é risco maior para 2024
Já fizemos bastante festinha para o resultado
bom e muitíssimo inesperado do crescimento
da economia em 2023. Discutimos muito o que se passou no curto prazo (ainda
não entendemos direito) e o que pode ser de 2024. Olhando um pouco além da
próxima esquina, aparece um aviso de congestionamento econômico: a taxa
de investimento caiu
no ano passado; é de apenas 16,5% do PIB.
Taxa de investimento: é o quanto da renda (do
PIB) de determinado ano foi gasto em aumento da capacidade de produção de bens
e serviços. Isto é, em novas casas, em instalações produtivas e outras obras de
construção civil, em novas fábricas, em máquinas, equipamentos,
"softwares".
Pois bem, repetindo: a taxa de investimento
foi de 16,5% do PIB. É a menor do século, fora os anos do final da Grande
Recessão e da economia ainda deprimida de 2017-2019.
Sem investimento, é difícil que a economia cresça sem estresse mais adiante, se crescer. Estresse: mais inflação ou também mais déficit externo. Déficit externo: mais comprar do que vender bens e serviços ao exterior. O déficit pode crescer, mas até um limite.
Um país meio pobre como o Brasil precisa
crescer rápido pelos motivos óbvios e, agora, ainda mais, para recuperar outra
década perdida. O biênio 2022-2023 foi o de melhor crescimento acumulado desde
2011-2012. Ainda assim, tirou apenas uma poeira do prejuízo.
A renda (PIB) per capita de 2023 ainda é
menor que a do começo de 2011. Se crescermos 2% neste 2023 e 3% em 2025,
passaríamos apenas então do pico da renda per capita, que ocorreu em 2013. Uma
dúzia de anos perdidos.
Em 2021, houve um crescimento forte do
investimento (12,9%), provavelmente por causa de taxas de juros muito
baixas, ajudas do governo e necessidade de remodelar negócios. Em 2022, a alta
foi de 1,1%. Em 2023, um fiasco, queda de 3%.
Juros altos e as nossas incertezas sempre
renovadas, por um motivo ou outro, como mudança atabalhoada de governo, podem
ter colocado empresas na retranca.
Em 2024, as taxas de juros estarão algo
menores, de modo mais notável no segundo semestre. Quem sabe o investimento
aumente. Se não aumentar, será difícil que o PIB cresça a uma taxa decente
também no curto prazo: neste ano de 2024 também.
Vai ser difícil que o setor externo
(exportações menos importações) dê
uma contribuição tão grande ao crescimento de 2024 quanto a de 2023: 2
pontos do crescimento de 2,9% do ano passado vieram do setor externo (o resto
do mundo consumiu esse tanto da produção do país, em termos líquidos).
Não deve haver tanta produção agrícola para
vender (a safra será menor), os preços caíram; a produção e a exportação de
petróleo devem crescer, mas os preços não devem ajudar, embora o valor futuro
do barril seja insondável. O Brasil será ainda mais um país petroleiro.
O emprego ainda vai bem, como
vimos pelos dados de janeiro. O endividamento de empresas e famílias
diminuiu. Dados ainda os juros mais baixos, há sinais de que a propensão a
investir pode aumentar. Mas os humores empresariais também são meio
insondáveis.
No mais, não haverá um impulso oficial para o
PIB tão grande quanto o do aumento do gasto do governo em 2023, em especial o
quase 0,7 ponto percentual de aumento de gasto do Bolsa Família.
Não quer dizer que 2024 será ruim, em
comparação com o nosso histórico medíocre. É ainda possível que o PIB cresça
perto de 2%, provavelmente com mais força no segundo semestre.
Recorde-se que o segundo semestre de 2023 foi
de crescimento nenhum, foi de estagnação. Se continuarmos assim, crescimento
zero de trimestre sobre trimestre anterior, o PIB de 2024 terá aumentado 0,2%.
Enfim, afora o investimento baixo, sempre é
preciso lembrar dos nossos problemas crônicos, de solução incremental, sendo
otimista: educação fraca, infraestrutura insuficiente, pouca pesquisa e
desenvolvimento de inovação, instabilidade de regras econômicas. Ainda há muito
a fazer por aí.
Vixe ou viche!
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