segunda-feira, 22 de abril de 2024

Andrea Jubé - Ex-presidente terceiriza críticas e faz subir a pressão sobre Pacheco

Valor Econômico

No ato deste domingo (21) no Rio de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro manteve a estratégia de terceirizar aos aliados os ataques mais incisivos ao Supremo Tribunal Federal (STF), e reiterou argumentos para se defender da investigação de participação na tentativa de golpe de Estado em tramitação na Corte Constitucional.

Mais uma vez, Bolsonaro terceirizou a aliados os ataques diretos ao ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre a tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

O pastor Silas Malafaia fez os ataques mais veementes a Moraes e Pacheco. Voltou a chamar o ministro do STF de “ditador” e “censor da democracia”, e o presidente do Senado de “frouxo” e “covarde”. O objetivo é estimular os seguidores de Bolsonaro a pressionarem os senadores para cobrarem de Pacheco a tramitação de pedidos de impeachment contra Moraes.

Também já se notam ajustes calculados no discurso de Bolsonaro para não afrontar diretamente o STF e não agravar sua situação como investigado. Por exemplo, ele deixou de questionar as urnas eletrônicas e de acusar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de fraudar as eleições.

Foram essas acusações sem provas que ensejaram a sua inelegibilidade, condição que ele ainda tentará reverter, e precisa do STF para isso. Ontem ele afirmou: “Não estou duvidando das eleições, página virada”.

A convocação desses atos - primeiro em São Paulo, depois no Rio de Janeiro - transformou-se na principal estratégia de defesa do ex-presidente num momento em que o cerco investigativo vem se fechando em torno dele. Nesses eventos, ele se diz vítima de perseguição, e busca mostrar apoio político e força eleitoral.

A situação jurídica de Bolsonaro começou a se agravar a partir da delação premiada de seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, no ano passado. As investigações deram um salto, em seguida, com os depoimentos dos ex-comandantes do Exército Marco Antônio Freire Gomes e da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior, que confirmaram à Polícia Federal a existência de uma minuta de decreto de estado de defesa para invalidar as eleições de 2022.

O ponto de inflexão para Bolsonaro transportar sua defesa dos autos para as ruas foi a Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, em 8 de fevereiro, que apreendeu seu passaporte. Alguns de seus principais auxiliares foram alvos da ação, como os ex-ministros e generais da reserva Augusto Heleno, Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira. O ex-assessor internacional Filipe Martins foi preso.

Duas semanas depois, Bolsonaro, Malafaia, governadores e demais lideranças do bolsonarismo discursavam sobre um palanque montado na Avenida Paulista, desfiando ataques ao STF e a Moraes.

Na manifestação de ontem também ficou evidente a aposta do PL em amplificar as vozes de jovens lideranças do bolsonarismo. Bolsonaro disse que está plantando “sementes políticas”. Enquanto ele exaltou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), os deputados federais Nikolas Ferreira (MG) e Gustavo Gayer (GO), campeões de engajamento nas redes - e que o PL quer alçar ao patamar de lideranças nacionais - discursaram.

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