domingo, 14 de abril de 2024

Bernardo Mello Franco - Lira esbraveja, ataca, ameaça

O Globo

Deputado passou recibo após votação que manteve Chiquinho Brazão na cadeia

Na quarta-feira, a Câmara manteve a prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle Franco. Na manhã seguinte, Arthur Lira acordou invocado. Despejou a fúria no articulador político do governo.

O chefão da Câmara chamou Alexandre Padilha de “desafeto pessoal” e “incompetente”. Acusou o ministro de plantar “mentiras e notícias falsas que incomodam o Parlamento”. Encerrou os ataques em tom de ameaça: “Depois, quando o Parlamento reage, acham ruim”.

Lira usa a palavra Parlamento como sinônimo de si mesmo. É ele quem está incomodado com a soltura de Brazão. É ele quem ameaça reagir, impondo derrotas ao Planalto.

O roteiro para soltar Brazão foi bem ensaiado. Os bolsonaristas, que não se importam em defender um acusado de duplo homicídio, votariam para derrubar a prisão. O Centrão, que tenta manter as aparências, esvaziaria o plenário. Na prática, as ausências contariam a favor do deputado preso. Para mantê-lo na cadeia, eram necessários 257 votos.

Lira não assumiu a paternidade do plano, mas deixou as digitais à vista. Permitiu que a votação fosse adiada, o que diluiu o clamor popular, e impôs um rito expresso na quarta-feira, o que impediu um debate aberto em plenário. Seu braço direito, Elmar Nascimento, preferiu agir sem disfarces. Criticou a decisão do Supremo e deu um dos 129 votos para libertar o colega.

O Planalto demorou a despertar para a operação. Acreditou que a pressão da opinião pública se encarregaria do serviço. Padilha só começou a procurar deputados horas antes da votação. O resultado foi um placar apertado, com apenas 20 votos a mais que o necessário para manter a prisão preventiva.

Além desmoralizar o Supremo, a soltura de Brazão significaria um baque para a Polícia Federal. Se ficasse de braços cruzados, o Planalto frustraria os investigadores e assinaria um atestado de covardia.

Ao esbravejar e ameaçar o governo, o chefão da Câmara passou outro tipo de recibo. Não que ele tenha perdido o sono pelo colega preso. O que o aflige é saber que seu próprio poder, antes absoluto, começa a ser visto como declinante.

Saída de emergência

Circula entre políticos fluminenses um roteiro para evitar que Cláudio Castro siga o mesmo destino de cinco ex-governadores do Rio.

Em caso de derrota no Tribunal Regional Eleitoral, que julgará a cassação de seu diploma, o bolsonarista abriria mão de recorrer em Brasília. Em troca, ganharia uma vaga no Tribunal de Contas do Estado, preservando o foro privilegiado.

O plano tem duas pontas a serem amarradas. A primeira é convencer um conselheiro do TCE a antecipar a aposentadoria. A segunda é a incerteza na sucessão estadual.

Se a Justiça cassar o diploma de Castro, o vice Thiago Pampolha também deve perder o cargo. Neste cenário, o deputado Rodrigo Bacellar assume interinamente, e os eleitores voltam às urnas para escolher um novo governador.

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