O Globo
Manobra do chefão da Câmara atende aos
interesses do bolsonarismo e das big techs
O truque já é manjado em Brasília. Quando os
políticos querem jogar uma ideia para as calendas, anunciam a criação de um
grupo de trabalho para debatê-la. Foi o que Arthur Lira fez ontem com o projeto
de lei das redes sociais.
Depois de quatro anos de espera, o chefão da
Câmara informou que a proposta não será mais levada ao plenário. Alegou que não
haveria apoio político para aprová-la.
Segundo Lira, o relatório do deputado Orlando Silva “foi polemizado” e estava “fadado a não ir a canto nenhum”. Com esse argumento, ele anunciou a formação de um grupo para rediscutir o tema “sem disputas político-ideológicas”. Faltou explicar como fazer isso no Congresso, onde a política e a ideologia influenciam até a escolha da cor das gravatas.
Na prática, Lira enterrou a possibilidade de
a Câmara aprovar regras antes da eleição municipal. A manobra atende ao
interesse das grandes plataformas, que fazem lobby pesado para manter a
internet como um território sem lei.
As big techs não estão sozinhas. A extrema
direita também se opõe a qualquer tipo de regulamentação das redes. Afirma que
isso significaria uma ameaça à liberdade de expressão. O discurso tem sido
usado para proteger radicais que incitam o ódio, propagam notícias falsas e
pregam golpe de Estado.
A ofensiva de Elon Musk deixou mais claro o
que está em jogo. Novo herói dos bolsonaristas, o dono do ex-Twitter passou a
fazer ataques constantes ao Supremo. Acusa a Corte de impor uma ditadura ao
bloquear perfis de extremistas.
Todo tribunal é passível de críticas, mas o
objetivo de Musk é avacalhar a Justiça e criar um ambiente para o
descumprimento de suas decisões. Ontem a Comissão de Segurança Pública da
Câmara, controlada pela bancada da bala, aprovou uma moção de louvor e aplausos
ao bilionário. A ver se o capitão será convidado a entregar a honraria.
Ao travar a regulação das redes, Lira força o
Supremo a enfrentar mais um tema divisivo. No ano passado, os ministros
chegaram a desmarcar um julgamento para deixar o Congresso decidir. Quando o
caso for retomado, o chefão da Câmara vai acusar a Corte de invadir sua praia.
É isso mesmo!
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