Folha de S. Paulo
Líder em prefeituras, partido ganha
capilaridade para oferecer sustentação a governantes no plano nacional
Em uma década, a paisagem partidária do país
foi amassada por um rolo compressor. A principal sigla de esquerda está na
Presidência, mas tem só uma fração da força que já acumulou no Congresso e nos
municípios. A legenda que liderava a oposição praticamente
acabou, e os grupos que dominam a direita se alojaram em partidos de
aluguel.
A janela de migrações partidárias atualizou esse cenário. O PT ganhou 83 prefeitos, quase nada para uma legenda que tem a máquina do governo federal. O PL apostou tudo no poder de atração de um político incendiário e cresceu ainda menos.
O número de prefeitos não diz tudo sobre a
potência de um partido. Um grupo pode mandar no país sem administrar nenhuma
praça no interior. O ranking pinta outro tipo de retrato, que dá pistas sobre
estruturas que operam na política nacional.
O resultado do PT e do PL na última janela
contrasta com um rearranjo na ponta de cima da tabela. O PSD ganhou
quase 400 prefeitos e ultrapassou o MDB como o
partido à frente do maior número de cidades.
A capilaridade municipal sempre foi
considerada um ativo importante do velho PMDB para
eleger os parlamentares que negociavam apoio (ou não) ao presidente em
Brasília. Com o avanço sobre o Orçamento, o centrão desbancou a sigla. O PSD
pode testar o valor da antiga ferramenta para se tornar esteio de governantes
no plano nacional.
O partido foi fundado em 2011 por Gilberto
Kassab com a definição de que não seria de direita, nem de
esquerda, nem de centro. Agora, atraiu prefeitos interessados em guardar
distância dos dois principais polos da política nacional.
Na onda de migração, o partido certamente não
foi prejudicado pelo que pode ser lido como ambiguidade ou pelo poder de
atração de máquinas como o governo federal (onde o PSD tem três ministérios) e
o governo de São Paulo (do
qual Kassab é secretário). Em 2026, o partido pode apoiar a reeleição de Lula,
lançar candidato próprio ou embarcar num projeto de Tarcísio de
Freitas.
Kassab sabe ser dúbio.
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