Folha de S. Paulo
Como exigir civilidade ao cidadão se as
autoridades atuam com agressividade reativa?
O exemplo vem de cima, reza o lugar-comum. E
quando o comum é que o presidente se pronuncie sem freios, generalizam-se na
República as declarações desenfreadas. São aceitas com naturalidade, mas
bastaria observá-las com algum rigor para vê-las como um atroz desrespeito à
etiqueta institucional.
Como exigir da população que amenize o trato no embate entre contrários se no âmbito dos três Poderes, nas respectivas cúpulas, o que vale é a agressividade reativa? Num desenho breve, temos um pedaço do quadro de distorções em pouco espaço de tempo.
Um magistrado do
Supremo Tribunal Federal reage de modo intempestivo à busca de
holofotes do dono do X, descendo ao patamar dos interesses do bilionário; dois
ministros de Estado fritam o presidente da Petrobras; o presidente
da Câmara desanca em
público o articulador político do governo por suspeita de ter
sido desancado por ele aos ouvidos de jornalistas.
O ambiente da barulheira se sobrepõe à razão.
De autoridades ditas republicanas seria esperado que prestassem reverência
civilizada à racionalidade.
Feito o estrago, recorrem-se a remendos que
em nada remediam a profusão de comportamentos inadequados do ponto de vista da
institucionalidade. O presidente da República alega "teimosia" para
dar sustento funcional ao articulador. Sinal de aposta dobrada no atrito com o
deputado Arthur Lira.
Lula não
dirime com clareza a disputa pela presidência da Petrobras,
enquanto no STF o
colegiado dá apoio oficial, mas não compactua integralmente com as decisões
de Alexandre de
Moraes. Alguns ministros pensam de maneira diversa ao que diz a nota
formal de respaldo, mas se reservam ao silêncio.
O que podemos depreender do todo é a
utilidade da lição de Billy Blanco em
seu "Estatuto" de uma gafieira bem mais organizada que a no momento
tão desorganizada República brasileira: o ambiente exige respeito.
''Pelo estatuto da nossa gafieira,dance a noite inteira,mas dance direito''.
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