O Estado de S. Paulo
Ao se voltar para dentro, Lula melhora a política interna e reduz danos na externa
Finalmente acendeu a luz amarela, já tendendo
para o vermelho, e o presidente Lula decidiu arregaçar as mangas para reduzir
tensões e melhorar a relação entre os três poderes. Além de Rodrigo Pacheco
(Senado), Arthur Lira (Câmara) e ministros do Supremo, atenção ao encontro que
ele terá com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, nesta semana. A pauta é
eleições municipais, mas Lula vai cobrar. O pau comendo e cadê os líderes do
governo, as bancadas do PT, os ministros petistas? Não é com eles?
O saldo da reunião de Lula com líderes na sexta-feira foi especialmente bom para Arthur Lira, que deixou de ser o principal vilão. As culpas passaram a ser distribuídas mais democraticamente. Pacheco não é mais o mocinho da história, o PT tem de ganhar protagonismo pró-governo e Gleisi não pode aparecer só para bater em Fernando Haddad, da Fazenda, e badalar a “democracia relativa” da Venezuela, como diz Lula, e a “democracia efetiva” da China, como avaliza a própria Gleisi. Ajuda ou atrapalha?
Haddad antecipou a volta dos EUA ao Brasil
com três prioridades: votação do veto de Lula a R$5,6 bilhões de emendas
parlamentares, renegociação do Perse (programa para o setor de eventos criado
na pandemia) e o envio ao Congresso da encruada regulamentação da reforma
tributária. Uma outra preocupação do governo é com a possível derrubada do veto
à proibição da “saidinha” de presos do semiaberto para visitar suas famílias.
Bem, isso não tem a ver com Haddad, mas como ele é o quebrador-mor de
galhos…(brincadeirinha!). As saraivadas contra Lira se deslocam para Pacheco.
Lira tem seus defeitos, mas tem sido importante para as pautas econômicas e
para conter as contrárias ao governo e ao STF. E Pacheco? Tem lá suas
qualidades, mas foi autor da PEC do Quinquênio, contra o governo, criando
privilégios de R$ 42 bilhões ao ano para o já privilegiado Judiciário, e do
projeto que proíbe porte de drogas sem distinguir usuário de traficante,
considerado uma afronta do Supremo, que vai na direção oposta. São dois exemplos,
tem mais.
Ao restabelecer pontes com Lira, Lula
classificou de “barbeiragem” o ministro Paulo Teixeira cortar a cabeça do
superintendente do Incra em Alagoas sem fechar o sucessor com o primo do
decapitado. Quem? Arthur Lira, que volta à decisão. Mas quem tem de reconstruir
as pontes com o Pacheco é ele próprio, que já começou, ao avisar: retirar, ele
não pode, mas vai deixar a PEC do Quinquênio em banho maria. Se a ação de Lula
der certo e o PT ajudar, serão duas consequências: melhorar a política interna
e reduzir danos na externa. Quanto tempo dura? Ninguém sabe.
Então!
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