sexta-feira, 19 de abril de 2024

Eliane Cantanhêde - Último bastião

O Estado de S. Paulo

A economia, grande trunfo do governo em 2023, parou e começa a recuar

Em 2023, nada se viu de novo ou impactante nas áreas sociais, na articulação do Congresso ou nas posições de Lula e do PT na política externa, mas uma coisa é certa: a economia foi um sucesso, com PIB e indicadores superando previsões e um troféu: a reforma tributária. Em 2024, continuou tudo na mesma, com a diferença de que a economia parou e começa agora a recuar.

Estamos em meados de abril e nem mesmo as propostas de regulamentação da reforma tributária foram enviadas ao Congresso e o ministro Fernando Haddad jogou a toalha na promessa de superávit fiscal em 2025 e 2026, logo, no próprio arcabouço fiscal. Se superávit houver, será no próximo governo.

Haddad lutou bravamente pela arrecadação, mas Lula, o chefe da Casa Civil e o PT mantêm a surrada convicção de que, bom mesmo, é gastar, que traz bem-estar, alegria e… votos. O contrário é coisa de exploradores, ou seja, do tal mercado, num pacote em que Lula acha que está ajudando o País, os pobres e os eleitores interferindo no comando da Vale e da Petrobras, nas decisões de estatais e na política de preços dos combustíveis. Erro grave e perigoso.

Com a sucessão de equívocos, Haddad deixou a pauta econômica para o pior momento: Arthur Lira armado até os dentes, o Congresso em guerra contra Judiciário e Executivo e o bolsonarismo se empoderando com ataques de Elon Musk, Javier Milei, Netanyahu e agora de deputados republicanos dos EUA mirando Alexandre de Moraes para acertar Lula.

É visão antiquada desprezar o poder das redes sociais, o avanço da extrema direita no mundo e a simbiose entre as duas, que se reflete diretamente no Brasil, onde o Congresso se presta a ser sua grande caixa de ressonância. Com a articulação política do Planalto na mira e os líderes governistas sem comando, o ambiente está como o diabo gosta e a economia detesta. Como aprovar algo de útil?

Um exemplo é o projeto do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que aumenta privilégios dos já tão privilegiados juízes e procuradores, quando professores de universidades e institutos estão em greve cobrando migalhas. Para a Educação, arrocho em nome do ajuste fiscal. Para

o Judiciário, R$ 42 bilhões a mais por ano, com 5% a cada cinco anos – e sem submissão ao teto do funcionalismo. Teto no Brasil é para ser arrombado.

No centro do furacão, Lira se reuniu com Rui Costa e com Moraes, que, sob pressão, deu uma passadinha no Congresso. Mas não tenham dúvida: Lira tem faro, sabe que a direita está se empoderando e tentou fazer uma inflexão não só ainda mais à direita, mas contra governo e STF. Assim como ele, o eleitor e a eleitora têm faro e percebem como e para onde as coisas caminham.

 

 

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