Folha de S. Paulo
Não é improvável que maioria do eleitorado só esteja à espera de um bolsonarista civilizado
A última rodada do Datafolha sobre
a avaliação do
governo Lula (PT)
mostra um certo fastio dos brasileiros com o presidente em seu terceiro
mandato. Obtido, lembre-se, na disputa mais acirrada da história, contra Jair
Bolsonaro (PL), por margem de apenas 2,1 milhões de votos
(50,9% a 49,1%).
Naquele pleito, Bolsonaro perdeu para ele mesmo. Seu comportamento indecente e golpista no período sombrio em que comandou o país forçou milhões de eleitores —alguns famosos, publicamente; e muitos anônimos— a votar em Lula exclusivamente por repulsa ao ex-capitão.
Mas, apesar de Bolsonaro, Lula ganhou por um
triz. Indicativo claro de que o Brasil e o eleitorado mudaram muito desde 2010,
quando o petista deixou a Presidência consagrado com 83% de
aprovação.
Agora, um ano e três meses após assumir o
país pela terceira vez, Lula vê sua
aprovação empatar tecnicamente com a rejeição (35% o consideram
ótimo/bom e 33%, ruim/péssimo).
Na economia,
o presidente não foi tão mal quanto se esperava no primeiro ano. Contrariando
expectativas, o país cresceu 2,9%, com o desemprego caindo.
Mesmo assim, há mais
brasileiros achando que a economia piorou nos últimos meses do
que os que enxergam melhora. Aumentou a taxa dos que veem mais inflação e
desemprego à frente e cresceu os que observam piora em sua situação pessoal. A
balança pende para o negativo com o enorme peso e a opinião da quase metade que
votou em Bolsonaro.
Lula segue chovendo no molhado, falando muito
para quem gosta e vota nele. Já seu vice, Geraldo
Alckmin (PSB), convocado
para atrair moderados, é figura tão apagada em seu governo quanto políticas e
declarações voltadas ao centro e à centro-direita.
Há tempo para correção e, inelegível,
Bolsonaro estará fora da urna em 2026. Mas, neste momento, não é improvável que
mais da metade do país só esteja à espera de um bolsonarista minimamente
civilizado.
O Brasil merece uma direita civilizada.
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