Folha de S. Paulo, 7.4.2024
Ideias de Hannah Arendt não envelheceram;
filósofa foi presciente em relação a Israel
Há autores que passam bem pelo teste do
tempo. Hannah Arendt é um deles. Não que ela tenha acertado em
tudo, mas seus escritos permanecem em larga medida atuais.
"We Are Free to Change the World" (somos livres para mudar o mundo), de Lyndsey Stonebridge, não é exatamente uma biografia, embora funcione como uma. A obra analisa alguns dos temas centrais da filósofa, explicando sua gênese, o sentido que faziam à época e de alguma forma os atualizando para os dias de hoje. É assim que Stonebridge explora tópicos que teimam em permanecer entre nós, como tirania, pós-verdade, refugiados, racismo, e coloca figuras como Putin e Trump sob o escrutínio das ideias de Arendt.
Em alguns casos a filósofa se mostra
presciente. Ela percebeu bem que a criação do Estado de Israel se
tornaria um problema moral. Ao lado de uma minoria de intelectuais judeus,
defendia que Israel fosse um Estado binacional, de judeus e árabes. Para ela,
essa era a única forma de evitar uma vizinhança hostil e o problema de pessoas
privadas de cidadania, uma condição que ela experimentara na pele, depois
que Hitler desterrou os judeus alemães. Ela discutiu várias
questões como essa com Golda Meir, a premiê israelense de quem era amiga, apesar das
diferenças de opinião.
Em relação ao racismo nos EUA, Arendt não se
sai tão bem. Ela obviamente se opunha à discriminação. Numa espécie de protesto
contra o racismo, nunca visitou o sul de seu país adotivo. Mas ela se opôs ao
movimento de integração escolar por meio de ônibus que levavam crianças negras
a escolas de maioria branca. Esse sistema é hoje visto como um marco dos
direitos civis. Arendt, porém, achava que ele impunha uma carga pesada demais
às crianças negras, que eram submetidas a todo tipo de bullying.
Achei Stonebridge excessivamente contida
quando traz as ideias de Arendt para os dias de hoje, mas a timidez não torna a
obra menos interessante.
Minha vizinha (negra) não colocou os filhos na escola para não virar chacota,isto nos anos setenta,o marido de certo compactuava,claro.
ResponderExcluirEu virei chacota em todo lugar,branco-bicha.Pior do que a chacota são as ofensas.
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