Folha de S. Paulo
Irã desenhou ataque para gerar resposta
comedida, mas não há garantia de que esse será o desfecho
Um mundo perfeitamente racional conheceria a
guerra? Hesito em responder negativamente à pergunta.
Há exemplos históricos de países que se viram obrigados a lutar para repelir agressões. Pode-se, é claro, argumentar que, num mundo verdadeiramente racional, ataques imotivados nem sequer existiriam. Talvez, mas o fato é que não apenas não vivemos num mundo assim como estamos em um em que conflitos podem eclodir mesmo quando todas as partes queiram evitá-los. Erros de cálculo, considerações de segunda ordem e até caprichos do acaso explicam esses paradoxos.
Em princípio, não interessa nem ao Irã, nem
a Israel nem
às potências que as rusgas entre
Teerã e Tel Aviv evoluam para um conflito maior. O Irã desenhou seu
ataque ao Estado judeu praticamente implorando por uma resposta
comedida. Deu a Israel tempo e oportunidade para acionar suas
defesas. As interceptações foram um sucesso, e a destruição causada, mínima.
Seria o suficiente para ambos os lados proclamarem vitória e baixarem a bola.
É o que acontecerá se a sensatez
predominar, mas não há
garantias de que o desfecho será esse. Se Teerã deu sinais de que
quer evitar a escalada, também mostrou que tem capacidade bélica para ser
considerado uma ameaça, não apenas a Israel, mas também a países como Arábia
Saudita e Jordânia.
Eles podem achar que a hora de agir contra o Irã é agora, antes que os
aiatolás tenham sua
bomba atômica.
Pior, se à população israelense convém evitar
a ampliação da guerra, o mesmo não pode ser dito do premiê Binyamin
Netanyahu, cuja sobrevivência política depende da continuação das
hostilidades. Não dá para descartar nem que Joe Biden,
num cenário de dificuldades eleitorais, opte envolver-se num conflito externo a
fim de angariar apoio interno.
Um mundo perfeitamente racional pode não ser
um paraíso iluminista, mas um lugar onde cálculos frios e pessoais prevalecem
sobre os interesses coletivos.
O mundo precisa de paz.
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