terça-feira, 16 de abril de 2024

Hélio Schwartsman - Razão e guerra

Folha de S. Paulo

Irã desenhou ataque para gerar resposta comedida, mas não há garantia de que esse será o desfecho

Um mundo perfeitamente racional conheceria a guerra? Hesito em responder negativamente à pergunta.

Há exemplos históricos de países que se viram obrigados a lutar para repelir agressões. Pode-se, é claro, argumentar que, num mundo verdadeiramente racional, ataques imotivados nem sequer existiriam. Talvez, mas o fato é que não apenas não vivemos num mundo assim como estamos em um em que conflitos podem eclodir mesmo quando todas as partes queiram evitá-los. Erros de cálculo, considerações de segunda ordem e até caprichos do acaso explicam esses paradoxos.

Em princípio, não interessa nem ao Irã, nem a Israel nem às potências que as rusgas entre Teerã e Tel Aviv evoluam para um conflito maior. O Irã desenhou seu ataque ao Estado judeu praticamente implorando por uma resposta comedida. Deu a Israel tempo e oportunidade para acionar suas defesas. As interceptações foram um sucesso, e a destruição causada, mínima. Seria o suficiente para ambos os lados proclamarem vitória e baixarem a bola.

É o que acontecerá se a sensatez predominar, mas não há garantias de que o desfecho será esse. Se Teerã deu sinais de que quer evitar a escalada, também mostrou que tem capacidade bélica para ser considerado uma ameaça, não apenas a Israel, mas também a países como Arábia Saudita e Jordânia. Eles podem achar que a hora de agir contra o Irã é agora, antes que os aiatolás tenham sua bomba atômica.

Pior, se à população israelense convém evitar a ampliação da guerra, o mesmo não pode ser dito do premiê Binyamin Netanyahu, cuja sobrevivência política depende da continuação das hostilidades. Não dá para descartar nem que Joe Biden, num cenário de dificuldades eleitorais, opte envolver-se num conflito externo a fim de angariar apoio interno.

Um mundo perfeitamente racional pode não ser um paraíso iluminista, mas um lugar onde cálculos frios e pessoais prevalecem sobre os interesses coletivos.

 

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