O Globo
A notícia dos ataques que Arthur Lira (PP-AL)
fez a Alexandre
Padilha (Relações Institucionais) começou a circular nos
celulares dos deputados na quinta-feira passada, no momento em que líderes do
governo no Congresso se reuniam para discutir a votação das emendas
orçamentárias prevista para esta semana.
Lira chamou Padilha de “desafeto pessoal” e
incompetente, depois de vários veículos de imprensa publicarem que ele atuou
nos bastidores para que os deputados votassem pela soltura de Chiquinho
Brazão (sem partido-RJ), preso por ordem do Supremo Tribunal
Federal (STF)
sob a acusação de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle
Franco (PSOL).
A reação dos lulistas foi de ironia. “O café dele já esfriou mesmo, hein?”, disse um deles, já emendando: “Quem fez fama atropelando o governo vai se assustar ao ser atropelado”. O presidente da Câmara dos Deputados provavelmente não soube da piada governista, mas certamente percebeu que muita gente em Brasília interpretou um ataque tão frontal como sinal de desespero e fraqueza política.
Lira, claro, não gostou de aparecer na mídia
trabalhando por Brazão. Mas o que ele detestou mesmo foi a sugestão de que
teria feito isso para manter o cacife com bolsonaristas e deputados do Centrão
para ter o poder de fazer o sucessor no início de 2025. Tal versão complicou
sua vida. Se não se empenhou por Brazão, Lira vacilou com um público que
costuma lhe ser fiel. Se empenhou-se, saiu derrotado.
As jogadas recentes — sugerir que liberará o
andamento de projetos e pautas da oposição e autorizará a criação de CPIs para
atrapalhar governo e Supremo — não passam de uma ofensiva para mostrar que não
está morto ou fora de combate. E não está mesmo.
A simples ameaça de abrir fogo contra o
Planalto obrigou a tropa governista a recuar e pedir ao presidente do
Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), para adiar a votação sobre o veto de Lula a
R$ 5,6 bilhões, dos R$ 16,6 bi previstos para emendas parlamentares de comissão
no Orçamento deste ano.
Se é verdade que o presidente da Câmara ainda
pode provocar bastante estrago, também é fato que Lula já não é mais o mesmo do
início do governo, quando não teve alternativa a não ser engolir a reeleição de
Lira sem sequer cogitar lançar candidato.
No último ano, o presidente da República fez
alianças estratégicas no Senado, com Rodrigo Pacheco e Davi
Alcolumbre (União-AP), e no Supremo Tribunal Federal, cujos
ministros vivem num embate com o Parlamento.
Diante dos últimos ataques, fez como Israel,
que acionou americanos e ingleses para ajudar a abater os drones iranianos
antes de lançarem suas bombas.
Um dia depois de Pacheco adiar a votação das
emendas, o ministro Alexandre de
Moraes baixou de surpresa no Congresso e se reuniu com o
próprio Lira a portas fechadas. Não se imagina que o assunto tenha sido outro
que não a iniciativa de recomeçar do zero o desenho da regulamentação das
plataformas digitais. Ou então a ideia de abrir uma CPI para apurar abuso de
autoridade por parte do tribunal. Circulou nos bastidores que foi uma conversa
dura.
Não foi coincidência que, pouco depois,
falando com o ministro da Casa Civil, Rui Costa,
Lira tenha dito que nunca cogitou uma vingança, imagina, muito pelo contrário.
Mas tinha de atacar Padilha e o Supremo para atender a uma demanda de sua base.
Brazão, aliás, já é o segundo parlamentar preso pelo STF sob sua gestão. E o
fato de Lira não ter conseguido conter nenhuma das duas prisões não pega bem
para a direita mais radical que sempre o apoiou.
Embora não admita em público, nos bastidores
o presidente da Câmara não esconde o incômodo com a antecipação da disputa por
sua sucessão, aberta desde o início do mandato pelos próprios aliados. Em julho
passado, apenas cinco meses depois de ter sido reeleito, Lira disse, no Roda
Viva: “A sucessão não está aberta. Eu já disse que quem botar a unha de fora,
esquece, vai arrumar um problema comigo”.
De lá para cá, a coisa só ficou mais
escancarada. Aliados como Elmar
Nascimento (União-BA) e Marcos
Pereira (Republicanos-SP) viajam pelo Brasil para almoços,
jantares e eventos de campanha, à vista de todos e sob olhares divertidos dos
governistas. Conter esse avanço para manter o café quente custará cada vez mais
caro a Lira — e, conforme o estrago que ele for capaz de provocar, poderá sair
caro também para o governo Lula.
Só rolo e confusão!
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