O Estado de S. Paulo
Promotores apuram envolvimento de agentes públicos no megaesquema de lavagem de dinheiro
Um espectro ronda o Brasil: o espectro do
crime organizado. Trabalhadores, policiais, empresários, religiosos, ateus,
brancos, negros ou índios têm vivido uma guerra ininterrupta ora franca ora
disfarçada; uma guerra que sempre terminou pela derrota de uma das partes nesse
conflito: o Estado ou a criminalidade organizada.
O acento deslocado aqui das lutas sociais para a paz e segurança pública não significa renúncia à civilização em defesa de soluções de força. Poder não se confunde com violência, como ensinava Hannah Arendt; ela só se estabelece onde o poder é fraco ou está em crise. É o que vivemos na Segurança Pública do País. O alerta agora vem da Operação Fim da Linha, executada ontem pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pela Receita Federal. Ela mostra o grau da captura do sistema público de transporte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Foram cumpridos dezenas de mandados de busca e decretado bloqueio de bens até o limite de R$ 680 milhões, além de prisões.
Mas não deve parar por aí. Um esquema assim
não se circunscreve à maior cidade do País. Ele se espraia como uma metástase
pelo interior, por municípios sem estrutura para lidar com a sofisticação cada
vez maior dos esquemas de fraudes e lavagem de dinheiro de organizações
criminosas, que, evidentemente, não teriam se estabelecido sem a incompetência
e a desídia de quem devia combatêlas ou simplesmente sem a corrupção de agentes
públicos. Essa é a certeza compartilhada pelos promotores responsáveis pela operação:
há ainda um longo caminho para desentocar do Legislativo e do Executivo os que
foram corrompidos pelo dinheiro das organizações criminosas.
A lição que Gaeco e Receita deixam aos
adeptos do estilo Rambo de policiamento é a do fracasso de quem acha que vai
derrotar o crime organizado na base da bala. O coronel José Vicente da Silva
Filho usa o exemplo da comunidade do Jacarezinho, no Rio, ao tratar do fiasco
dessa tática. “De 2007 a 2020 foram feitas ali 289 operações com 186 mortes.
Não era para ter resolvido o problema de segurança nas primeiras ações?” A
pergunta é pertinente. Ações como a Operação Escudo não arranharam a unha do
PCC.
Normalmente, truculência da polícia só
encarece o acerto e a venda de segurança privada. Os suspeitos de sempre são
baleados pelo populismo policial, que só interessa aos deputados policiais e
aos que aplaudem a barbárie como se estivessem no coliseu romano. Não faltará
bandido pé de chinelo para substituir os mortos. Enquanto isso, o crime se
enriquece nas barbas de políticos que, atrás dos tiros, enxergam apenas votos.
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