O Globo
A conexão não está tão clara, mas se a
inflação estivesse alta, seria fator de queda de aprovação
O governo se perde no emaranhado dele mesmo, numa gestão que tem muitos pontos positivos e muitos ruídos desnecessários. Na economia, a administração surpreendeu os céticos, mas trava uma batalha por dia, sem união do governo em torno do projeto que está entregando ao país a inflação baixa e algum crescimento. Há uma impressão errada de que a economia não está trazendo popularidade. Experimentasse o governo uma política que levasse à alta de inflação, para ver no que isso resultaria. O mundo está com uma conjuntura muito específica, com o adiamento sucessivo do início da queda dos juros americanos. Num cenário assim, há menos tolerância de investidores com os erros nos países emergentes, como essa bagunça em torno da Petrobras.
A notícia de que a criação de empregos, não
agrícolas, tinha sido mais forte do que o esperado nos Estados Unidos fez com
que o Fed desse sinais de que em vez de começar a reduzir os juros em julho,
seria em setembro. Isso muda o fluxo de capitais no mundo. Um integrante do
Banco Central ao ver a notícia, me disse: “Já estou pegando minha toalhinha
branca para entrar na sauna que o Fed vai nos colocar.” É uma forma de dizer
que a redução dos juros aqui acaba sendo afetada. Na mesma sexta em que saiu
esta notícia, o Brasil amanheceu no meio da brigalhada em torno do comando da
Petrobras, assunto no qual o governo segue um roteiro de intrigas, vaidade e
intervencionismo.
A Fazenda está tentando administrar um
problema sempre difícil que é a renegociação da dívida dos estados. Perguntei a
um integrante do governo, por que aceitaram fazer novas concessões a
governadores, alguns dos quais têm sido gastadores.
— A gente teve que tomar a frente disso,
estava começando a ter movimentos muito descontrolados, com algumas ideias não
razoáveis que poderiam se acumular e ir para o Congresso ou o Judiciário. A
gente acaba sendo impelido a buscar um caminho.
A solução passa por uma redução dos juros,
que representará uma queda de receita futura de R$ 8 bilhões por ano.
— Você vai remunerar menos um ativo, o que é
um custo não comparável ao prejuízo de um perdão parcial da dívida com efeito
retroativo, ou ter que receber ativos por duas vezes o valor.
O Nordeste tem uma dívida menor e um dos
pedidos é tomar dívidas em bancos públicos e privados por 20 anos em lugar de
12, para equiparar às captações internacionais. Mas fizeram dois pedidos que
são mais nocivos, um aumento do Fundo de Participação dos Estados e o direito
de não pagar integralmente os precatórios. Esse último foi a manobra do
bolsonarismo, da qual o governo federal está se livrando a um custo alto.
Na semana passada, surgiu outra frente de
conflitos com a decisão do senador Rodrigo Pacheco que levou à manutenção da
desoneração dos municípios. Na Fazenda, a convicção é que isso é
inconstitucional. Mas será difícil num ano de eleições municipais.
As batalhas do Ministério da Fazenda são
muitas e complexas. Nem falei de todas. O ano, segundo pessoas que ouvi na área
econômica, está muito mais tenso na relação com o Legislativo e, na convicção
de uma das fontes que escutei, pode piorar, quando houver troca de comando nas
duas casas do Congresso. O Banco Central está com os olhos na área externa.
— A preocupação principal hoje é o cenário
internacional e isso é para todos os bancos centrais. A piora recente que a
gente vê no preço dos ativos está ligada à ideia de que aumentou a incerteza e
a dúvida sobre o que o Fed pode fazer — me disse um dirigente.
A preocupação com a popularidade é normal. O
risco, na economia é que, no esforço de aumentar a aceitação, sejam tomadas
decisões populistas. Isso leva a mais inflação e derruba o crescimento. O fim é
menos apoio. Hoje a ligação entre economia e aprovação política é menos
evidente. Isso em todos os países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o
economista Larry Summers, ex-secretário do Tesouro, escreveu um artigo dizendo
que a economia está bombando, os economistas sabem, mas não o cidadão.
Ao tentar entender esse descolamento no
Brasil é preciso ter em mente que, se o efeito da melhora da economia na
aprovação não está claro, a piora na economia, com queda do PIB, inflação alta,
e aumento do desemprego, certamente cobraria um custo alto. O certo para o
governo é fortalecer a política que nos trouxe até aqui.
Pode ser.
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