O Globo
Antes de novas derrotas, presidente disse viver situação de "muita tranquilidade"
Em café recente com jornalistas, Lula tentou
negar a crise na articulação política do governo. “Sinceramente, não acho que a
gente tenha problema no Congresso”, desconversou. “A gente tem as situações que
são as coisas normais da política”, prosseguiu.
Parlamentares ameaçavam o Planalto em voz
alta, mas o presidente insistiu que tudo estava sob controle. “Nós estamos numa
situação, eu diria, de muita tranquilidade com o Congresso”, afiançou.
Nesta terça, a realidade voltou a se impor. Em sessão conjunta, deputados e senadores impuseram novas derrotas ao governo. Derrubaram vetos de Lula e ressuscitaram agrados de Jair Bolsonaro à sua tropa.
O Planalto apanhou sem dó. Os congressistas
invalidaram a tentativa de manter a saída temporária de presos e recolocaram
obsessões da ultradireita, como o combate ao aborto e à transição de gênero, na
Lei de Diretrizes Orçamentárias.
De quebra, mantiveram vetos de Bolsonaro que
beneficiaram a extrema direita. Barraram punições a quem espalha fake news e
impediram a ampliação das penas de militares condenados por tentativa de golpe.
O placar das votações mostra que o Centrão
voltou a se unir à oposição bolsonarista para nocautear o governo. Na lona, o
Planalto tenta atribuir as derrotas ao crescimento do populismo de direita. O
Congresso nunca foi tão reacionário, mas isso não explica tantos reveses
simultâneos.
A surra expôs uma articulação ineficiente,
que não consegue garantir a fidelidade de partidos da base. Siglas que
controlam ministérios valiosos, como PSD e União Brasil, votaram em massa
contra o governo. A farra das emendas impositivas, que reduziu o poder de
barganha do Executivo, torna a tarefa ainda mais complicada.
Aliados de Lula batem cabeça sobre o que
fazer. Alguns cobram uma reforma ministerial já. Outros defendem uma agenda de
redução de danos, votando apenas projetos de consenso. Ninguém sabe o melhor
caminho para garantir a chamada governabilidade. Mas negar o problema, como fez
o presidente, não parece uma forma de resolvê-lo.
É verdade.
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