O Globo
O que de pior pode acontecer a um presidente
é virar um pato manco tanto tempo antes do término do governo
As sucessivas derrotas do governo no
Congresso em praticamente qualquer agenda que não tenha sido abraçada
previamente por Arthur Lira mostra que a governabilidade de Lula hoje é refém
de um grupo que não esteve com ele em 2022.
É urgente para o presidente sair das cordas,
diminuir essa dependência e resgatar a aliança que o elegeu, mas, para isso,
será preciso repactuar a relação com bons nacos desse grupo.
Lira começou sua aproximação com o governo ainda em 2022, na costura e votação da PEC da Transição, movido pelo pragmatismo. Eleitor de Jair Bolsonaro e beneficiário de seu governo, viu que precisava descartá-lo para construir sua reeleição ao comando da Câmara sem sobressaltos.
Entregou de volta um primeiro ano em que a
pauta de Lula passou com relativa facilidade na Casa, só empacando justamente
quando o governo insistia em não cumprir acordos ou em rever iniciativas de
cunho mais liberal aprovadas nas legislaturas anteriores.
Essa tendência a dar murro em ponta de faca e
querer ignorar as circunstâncias em que foi eleito para o terceiro mandato tem
sido responsável em grande parte pelas agruras de Lula no Congresso e pela
sangria nas pesquisas de popularidade —e, em breve, poderá também levar a
sustos nos levantamentos de intenção de voto.
A tal frente ampla que se juntou a Lula um
tanto a contragosto, que uniu a esquerda que já estava com ele a antigos
aliados que se reaproximaram, sociais-democratas e liberais de fato (não os
reacionários bolsonaristas que passaram a usurpar a nomenclatura), se esgarçou
já no início do mandato, e Lula não fez mais acenos aos que chegaram a seu
palanque porque não admitiam a vitória de Bolsonaro depois de todos os ataques
à ciência, aos direitos humanos e à democracia.
Acontece que nem o ex-presidente sofreu uma
derrota acachapante nem desidratou como se imaginava depois que sucessivas
investigações revelaram ainda mais descalabros de sua passagem pela
Presidência. Segue disposto a dar as cartas do jogo da sucessão e a pressionar
o Congresso e o Judiciário por uma anistia para seus malfeitos.
Se Lula continuar ignorando que muitos
partidos no governo, com cargos e lauta liberação de verbas, não só não lhe
garantem a governabilidade no Legislativo, como fatalmente lhe darão as costas
na campanha daqui a dois anos e meio, corre o risco de chegar a ela tendo de
buscar os aliados de 2022 que até aqui não se dignou a ouvir para governar.
Fernando Haddad construiu em 2023 uma
credibilidade que lhe permite ser o embaixador dessa costura enquanto é tempo.
Onde está Simone Tebet, que, depois de já podada em suas pretensões logo na
largada do governo, parece ter se conformado a uma atuação discreta, apagada,
que em nada condiz com sua trajetória política até a candidatura presidencial?
O mesmo pode-se dizer de Geraldo Alckmin, que, cioso de ser um estranho no
ninho petista, se esconde do jogo e toca apenas a bola de lado.
Esse é o grupo que pode buscar as forças
políticas e econômicas moderadas e ouvir o que o governo pode fazer para
quebrar um ciclo de desconfiança que tem alimentado as hienas do Centrão a
cobrar cada vez mais caro e a entregar cada vez menos, uma vez que já detêm um
controle sem precedentes do Orçamento da União, os cargos que pleitearam e
sentem que não precisam sequer sustentar o governo de que se alimentam.
A esquerda, petista ou aliada, precisa olhar para o placar das votações no Congresso e parar de cobrar de Lula posições que só o farão acumular derrotas. O que de pior pode acontecer a um presidente é virar um pato manco tanto tempo antes do término do governo.
Ué, só deixar nas mãos da presidente do PT e da primeira-dama que as coisas se resolvem.
ResponderExcluir😏😏😏
Pois é,Vera!
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