O Globo
Lula usou o Dia do Trabalho para alavancar a
candidatura de Guilherme Boulos em São Paulo. “Vou fazer um apelo: cada pessoa
que votou no Lula em 1989, em 1994, em 1998, em 2002 (...) tem que votar no
Boulos para prefeito”, discursou, no palanque das centrais sindicais.
A legislação eleitoral afirma que só é
permitido fazer campanha após 15 de agosto. Ao pedir votos para o aliado, o
presidente cometeu uma infração à luz do dia. Não é possível absolvê-lo por
inexperiência.
Lula poderia encher um álbum com as multas
que já recebeu da Justiça por campanha antecipada. Ora para si mesmo, ora para
aliados, como Dilma Rousseff e Fernando Haddad. Nada indica que a coleção vá
parar por aqui.
A reincidência não o faz muito diferente dos adversários. De Jair Bolsonaro a José Serra, quase todos já foram punidos pelo mesmo motivo. São beneficiados por uma legislação inócua, que serve como incentivo a quem quiser descumpri-la.
As multas por campanha antecipada variam
entre R$ 5 mil e R$ 25 mil. Uma ninharia diante dos valores milionários que
movimentam as campanhas. Além disso, não se conhece um único político que tenha
coçado o próprio bolso. O dinheiro sai do comitê ou do partido, ambos
abastecidos com verba pública.
Há um componente de hipocrisia na lei. No
mundo real, as campanhas começam muito antes da data marcada. Os pré-candidatos
visitam comunidades, beijam criancinhas, sobem em palanques e criticam os
rivais. Só não podem pedir voto de forma explícita — como se isso fosse
necessário.
As falhas da legislação não eximem ninguém de
respeitá-la. Ao dizer o que disse, o presidente deu mau exemplo e contratou
mais uma punição. O que não significa que Boulos vá sair no prejuízo.
Empatado com Ricardo Nunes nas pesquisas, o deputado do PSOL aposta na força do padrinho. Acredita que vai crescer quando mais eleitores souberem que ele é apoiado por Lula. A grita do prefeito, que se disse “perplexo” com o pedido de voto, só o ajuda a divulgar a aliança.
Verdade.
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