Folha de S. Paulo
Acordo levou em conta prejuízo político
diluído, mas é um negócio melhor para Câmara que para o presidente
O acordo para aprovar a
taxação de compras internacionais começou a sair da caixa há
uma semana. Enquanto o governo anunciava que vetaria a tributação, Fernando
Haddad dava a senha. "Temos que buscar uma solução
conjunta", disse o ministro, na Câmara.
"Não pode recair sobre uma pessoa a responsabilidade por resolver esse
problema."
Alguns ministros sempre foram favoráveis à cobrança de tributos sobre encomendas de até US$ 50 que chegam do exterior. Haddad e Geraldo Alckmin ouvem queixas da indústria e do comércio desde os primeiros dias de mandato, mas nunca haviam conseguido convencer Lula a queimar pontos de popularidade para proteger as empresas nacionais.
O presidente aceitou pegar a primeira
oportunidade que permitiria negociar a resolução do problema e, ao menos,
diluir o impacto político da medida. O governo aproveitou uma carona com Arthur Lira,
que havia decidido atender ao lobby empresarial e amarrar o centrão a uma
proposta para taxar em 60% os produtos importados.
Lula e Lira costuraram o que poderia ser
descrito politicamente (com boa carga dramática) como uma espécie de morte cruzada.
No caso das blusinhas, a ideia era encontrar um patamar de desgaste que
Executivo e Legislativo fossem capazes de compartilhar e absorver, sem que o
eleitor pudesse acusar um único ator de apertar o gatilho.
Ainda na semana passada, o petista repisou o
ônus de taxar as "bugigangas", mas abriu uma porta: "A tendência
é vetar, mas a tendência também pode ser negociar". Dito e feito. O
presidente e Lira negociaram um tributo de 20%, para uma votação que ocorreu de
forma simbólica na Câmara, sem impressões digitais de governistas, centrão ou
oposição.
O negócio parece melhor para os deputados e
senadores do que para Lula. O julgamento que o eleitor faz do Congresso já é
naturalmente diluído entre quase 600 políticos. A dobradinha com o Executivo
alivia a barra dos parlamentares um pouco mais. O governo não será o único na
linha de tiro, mas será sempre um alvo maior.
Muito bom e esclarecedor o artigo.
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