quarta-feira, 1 de maio de 2024

Bruno Boghossian - O pires sem fundo do governador

Folha de S. Paulo

A cada 4 anos, estado faz farra eleitoral para escolher quem vai reclamar de sua penúria

A política do Rio tem seus rituais. Alguns são exóticos, todos são previsíveis. A cada quatro anos, políticos concorrem ao cargo de governador. Ao fim, o vencedor toma posse. Quando não está ocupado com problemas na Justiça, o sortudo reclama da penúria do governo e diz que não tem como pagar seus funcionários.

A ameaça é quase uma tradição. Em 2015, Luiz Fernando Pezão pediu socorro ao governo federal e avisou que não tinha dinheiro para pagar o 13º dos servidores. Anos depois, Wilson Witzel usou uma justificativa parecida para adiar o pagamento de dívidas com a União. Agora, Cláudio Castro segue o mesmo caminho.

O governador do Rio quer rever as regras aplicadas ao pagamento de dívidas com a União. Castro levou a reivindicação ao STF, citando cobranças indevidas e o que chamou de "conduta abusiva" do governo federal. Numa entrevista à TV Globo, ele disse que o estado caminha para uma situação em que ficará, no futuro, sem dinheiro para pagar salários.

Todo governador tem direito de fazer um pouco de drama na hora de desarmar as bombas armazenadas no cofre de estados quebrados. Em casos assim, o pagamento de dívidas é mesmo capaz de espremer todos os centavos. Como seus antecessores, no entanto, Castro tenta disfarçar uma má administração crônica e farras em ano eleitoral.

O pessoal em Brasília encarregado de cobrar a dívida ergueu um espelho diante do governador. O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, apontou que a gestão Castro aumentou em 24% os gastos com pessoal em 2022, quando ele tentava a reeleição. Na prática, criou uma despesa permanente que engoliu o crescimento das receitas do estado.

A desgraça também aumentou naquele ano porque Castro engrossou a onda da campanha de Jair Bolsonaro para baixar os impostos sobre os combustíveis, o que achatou a arrecadação do estado. Na época, o governador comemorou a manobra ao lado do então presidente. Não é motivo para asfixiar o estado, mas seus políticos agora pagam o preço.

 

 

Um comentário: