Folha de S. Paulo
Presidente tenta contornar retorno político
modesto na classe média e entre trabalhadores
Lula não
escondeu o incômodo diante da plateia do 1º de Maio em São Paulo. O presidente
reproduziu uma bronca dada em sua equipe pela falta de esforço para levar ao
ato "a quantidade de gente que era preciso levar". Ainda assim,
tentou sair por cima: "Eu estou acostumado a falar com mil, com 1 milhão,
mas também, se for necessário, eu falo com uma senhora maravilhosa que está ali
na minha frente".
O evento foi organizado por centrais sindicais. O petista sabe que a capacidade de mobilização dessas organizações foi drenada pelo fim do imposto obrigatório. O que inquieta Lula de verdade é o retorno político modesto que o governo tem conseguido colher dentro de um público estratégico.
Em seus primeiros mandatos, o petista
conjugou benefícios sociais para a população mais pobre com medidas que
favoreciam de forma abrangente uma classe trabalhadora que ocupava um degrau
acima na pirâmide de renda. Agora, o governo tem captado certa antipatia no
segundo grupo.
Antes de transformar o ato numa flagrante
propaganda eleitoral antecipada a favor de Guilherme Boulos,
Lula usou o discurso do Dia do Trabalhador para enviar três recados a uma
fatia-chave da ampla classe média nacional. O primeiro e mais evidente foi
a sanção da lei
que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda. Ali, o presidente
repetiu a promessa de campanha de livrar da tributação quem tem salário de até
R$ 5.000 por mês.
O petista aproveitou para citar
explicitamente a "classe média" como potencial beneficiária da
desoneração da cesta básica prevista na reforma tributária. Ainda que a medida
atinja em cheio a população de baixa renda, Lula sabe que o mau humor com o
preço da comida se espalha por outros segmentos.
O presidente também decidiu enfrentar um tema
que é uma pedra no sapato das relações do governo com o mundo do trabalho.
Disse que o projeto do governo para regulamentar o trabalho por aplicativos não
prejudica essa atividade ("A gente não mexe com o direito de ser
autônomo") e abriu os cofres para aqueles que atuam como empreendedores
("Quem quiser trabalhar por conta vai ter apoio do governo e crédito a
juros baratos").
BB.
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