Folha de S. Paulo
Aliança direita-centrão derruba vetos em
temas que esbarram em políticas populistas e na agenda moral
O governo teve um dia doloroso no Congresso.
Parlamentares derrubaram vetos considerados importantes pela equipe de Lula,
o bolsonarismo aproveitou para reanimar alguns de seus principais espantalhos
ideológicos, e certos partidos da base aliada tiveram mais uma recaída em seu
eterno romance com a direita.
A sessão exibiu sintomas de um problema crônico do governo. O centrão se uniu à oposição para atropelar as orientações do Planalto em temas que esbarram na agenda moral e em visões populistas das políticas públicas —palanques explorados com gosto pelo bolsonarismo.
O Congresso manteve o veto de Jair Bolsonaro
à tipificação do crime de
"comunicação enganosa em massa" contra o processo eleitoral.
Esse trecho da lei era mesmo problemático. A votação, entretanto, deu palco a
políticos que ecoam uma defesa distorcida da liberdade para acobertar ataques à
democracia. Todos cantaram vitória contra o governo.
A dobradinha com o centrão se repetiu para
derrubar o veto de Lula
a um artigo da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Na prática,
parlamentares criaram uma regra que submete o presidente a acusações de crime
de responsabilidade caso o governo efetue despesas que possam ser relacionadas
à ocupação de terras privadas ou a ações educativas que façam referência à
orientação sexual.
O tiro final foi dado com a derrubada do
veto de Lula a um trecho da lei que restringe as saidinhas.
A maioria dos deputados e senadores decidiu fechar uma brecha cirúrgica que o
governo havia tentado abrir na legislação para permitir a visita temporária de
alguns presos do regime semiaberto a familiares.
As orientações do governo foram seguidas por
pouco mais de 100 deputados e 20 senadores. A oposição reuniu mais de 300
deputados e quase 50 senadores. Os placares não significam que Lula se tornou
minoritário no Congresso da noite para o dia. Revelam, porém, que a coalizão
bolsonarismo-centrão tem uma mobilização capaz de causar embaraços para o
governo em temas sensíveis.
Exatamente!
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