segunda-feira, 20 de maio de 2024

Bruno Carazza - De onde vem a influência de Alexandre Silveira

Valor Econômico

De político apagado a vencedor de embate na Petrobras, ministro tem ambições políticas e conexões com empresariado

Figura central na crise que levou à demissão do presidente da Petrobras, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, é um personagem do qual muito se fala, mas pouco se conhece.

Quem lê sua biografia nas redes sociais é levado a acreditar na história de sucesso de um garoto de origem humilde, que começou a trabalhar com 14 anos e foi aprovado em concurso público para delegado da Polícia Civil de Minas Gerais.

Tudo isso pode ser verdade, mas omite as conexões políticas e empresariais que facilitaram a sua ascensão.

Depois de uma tentativa frustrada de se eleger deputado federal em 2002 (em que bancou praticamente sozinho a campanha de R$ 44 mil, em valores da época), foi nomeado superintendente do poderoso Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em MG em 2003.

Um cargo com orçamento e importância política tão grandes não costuma ser dirigido por pessoas sem ligações com o poder. Silveira só chegou lá pelas mãos do tio, Agostinho Silveira, industrial e ex-deputado estadual, fundador do PL, partido do então vice-presidente da República, José Alencar.

Menos de um ano depois, em meio a uma das primeiras crises da base aliada do governo Lula I por verbas e cargos, Silveira foi indicado na cota do PL para chefiar a autarquia nacionalmente. Na mensagem presidencial assinada por José Dirceu para ratificação do Senado, seu currículo constrange pela falta de atributos técnicos para a função.

A direção do DNIT foi um trampolim. Em 2006 Silveira se elegeu para a Câmara dos Deputados pelo antigo PPS (atual Cidadania), com uma campanha cara (R$ 1.134.196,13), boa parte financiada por construtoras: Mecanorte Construções e Empreendimentos (R$ 184 mil), Santa Bárbara Engenharia (R$ 180 mil), Vega Engenharia (R$ 120 mil), Empresa Construtora Brasil e Pavotec Pavimentação e Terraplanagem (com R$ 40 mil cada) e Fidens Engenharia (quase R$ 33 mil) ficaram entre as principais doadoras.

Para se reeleger em 2010, Silveira se tornou ainda mais eficiente na arrecadação, diversificando a fonte de recursos. Além de construtoras, conseguiu mobilizar pesos pesados da economia nacional, como Usiminas (R$ 178 mil), Multiplan (R$ 100 mil), Cenibra Celulose (R$ 50 mil), ArcelorMittal (R$ 42 mil) e Gerdau (R$ 30 mil).

Vencedor, praticamente não exerceu o segundo mandato. Foi convidado pelo então governador de Minas, Antonio Anastasia (na época no PSDB), para assumir a Secretaria de Gestão Metropolitana e, depois, a pasta da Saúde. Demonstrando faro para as mudanças de vento na política, Silveira aderiu a Gilberto Kassab na fundação do PSD em 2011.

O contato estreito com Anastasia rendeu convite para figurar como seu primeiro suplente na chapa para o Senado em 2014. O projeto era promissor: braço direito de Aécio Neves, com certeza Anastasia viraria ministro caso o tucano derrotasse Dilma na eleição presidencial - e de bandeja Silveira se tornaria senador. Por menos de 3,3% dos votos válidos, porém, o plano deu ruim, e ele teve que amargar um longo período na suplência de Anastasia.

Mesmo sem cargo legislativo, Silveira não abandonou a política. Presidiu o PSD em Minas durante dois períodos e quando seu amigo e correligionário Rodrigo Pacheco assumiu a presidência do Senado, tratou de nomeá-lo para ser seu diretor de assuntos jurídicos.

A oportunidade para assumir uma cadeira de senador tardou, mas chegou: graças a um acordo político costurado por Pacheco, no início de 2022 Anastasia foi escolhido ministro do Tribunal de Contas da União, liberando a vaga para Silveira assumir.

Silveira chegou chegando, disposto se cacifar eleitoralmente para conseguir um novo mandato na eleição daquele ano. Novamente demonstrando uma boa leitura política, recusou dois convites para líder do governo Bolsonaro no Congresso, pois o PSD se articulava para apoiar Lula.

Com o apoio de Pacheco, relatou projetos de forte apelo popular, como a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600, a instituição do vale-gás e do auxílio-caminhoneiro, além da aprovação da Lei Paulo Gustavo, que destinou recursos para o setor de cultura.

Apesar de toda exposição e do apoio de Lula, acabou derrotado pelo bolsonarista Cleitinho Azevedo. Como prêmio de consolação, integrou a equipe de transição para o terceiro mandato lulista, na área de infraestrutura. Com a entrada do PSD na base do novo governo, coube a Silveira assumir o ministério de Minas e Energia - novamente uma matéria para a qual não possui experiência.

Responsável por uma área de forte movimentação de recursos (com as poderosas Petrobras, Itaipu e Eletronuclear à frente) e grande impacto econômico e político (mineração, energia e combustíveis), Silveira tem se equilibrado entre o alinhamento ao ideário desenvolvimentista do PT e os muitos interesses empresariais que sua pasta atrai.

Para quem sempre demonstrou ambição política e soube escolher as mais vantajosas conexões, Silveira está no lugar ideal - para ele, não necessariamente para o país.

 

2 comentários:

  1. Muito bom! O sujeito é advogado, foi delegado de polícia, mas comanda setores de saúde, transportes, e agora MINERAÇÃO E ENERGIA no ministério Lula 3. Impressionante... Parabéns ao colunista pela ótima exploração do assunto, e ao blog que divulga seu trabalho realmente INVESTIGATIVO!

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