Valor Econômico
De político apagado a vencedor de embate na Petrobras, ministro tem ambições políticas e conexões com empresariado
Figura central na crise que levou à demissão
do presidente da Petrobras,
o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, é um personagem do qual
muito se fala, mas pouco se conhece.
Quem lê sua biografia nas redes sociais é
levado a acreditar na história de sucesso de um garoto de origem humilde, que
começou a trabalhar com 14 anos e foi aprovado em concurso público para
delegado da Polícia Civil de Minas Gerais.
Tudo isso pode ser verdade, mas omite as conexões políticas e empresariais que facilitaram a sua ascensão.
Depois de uma tentativa frustrada de se
eleger deputado federal em 2002 (em que bancou praticamente sozinho a campanha
de R$ 44 mil, em valores da época), foi nomeado superintendente do poderoso
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em MG em 2003.
Um cargo com orçamento e importância política
tão grandes não costuma ser dirigido por pessoas sem ligações com o poder.
Silveira só chegou lá pelas mãos do tio, Agostinho Silveira, industrial e
ex-deputado estadual, fundador do PL, partido do então vice-presidente da
República, José Alencar.
Menos de um ano depois, em meio a uma das
primeiras crises da base aliada do governo Lula I por verbas e cargos, Silveira
foi indicado na cota do PL para chefiar a autarquia nacionalmente. Na mensagem
presidencial assinada por José Dirceu para ratificação do Senado, seu currículo
constrange pela falta de atributos técnicos para a função.
A direção do DNIT foi um trampolim. Em 2006
Silveira se elegeu para a Câmara dos Deputados pelo antigo PPS (atual
Cidadania), com uma campanha cara (R$ 1.134.196,13), boa parte financiada por
construtoras: Mecanorte Construções e Empreendimentos (R$ 184 mil), Santa
Bárbara Engenharia (R$ 180 mil), Vega Engenharia (R$ 120 mil), Empresa
Construtora Brasil e Pavotec Pavimentação e Terraplanagem (com R$ 40 mil cada)
e Fidens Engenharia (quase R$ 33 mil) ficaram entre as principais doadoras.
Para se reeleger em 2010, Silveira se tornou
ainda mais eficiente na arrecadação, diversificando a fonte de recursos. Além
de construtoras, conseguiu mobilizar pesos pesados da economia nacional, como
Usiminas (R$ 178 mil), Multiplan (R$ 100 mil), Cenibra Celulose (R$ 50 mil),
ArcelorMittal (R$ 42 mil) e Gerdau (R$ 30 mil).
Vencedor, praticamente não exerceu o segundo
mandato. Foi convidado pelo então governador de Minas, Antonio Anastasia (na
época no PSDB), para assumir a Secretaria de Gestão Metropolitana e, depois, a
pasta da Saúde. Demonstrando faro para as mudanças de vento na política,
Silveira aderiu a Gilberto Kassab na fundação do PSD em 2011.
O contato estreito com Anastasia rendeu
convite para figurar como seu primeiro suplente na chapa para o Senado em 2014.
O projeto era promissor: braço direito de Aécio Neves, com certeza Anastasia
viraria ministro caso o tucano derrotasse Dilma na eleição presidencial - e de
bandeja Silveira se tornaria senador. Por menos de 3,3% dos votos válidos,
porém, o plano deu ruim, e ele teve que amargar um longo período na suplência
de Anastasia.
Mesmo sem cargo legislativo, Silveira não
abandonou a política. Presidiu o PSD em Minas durante dois períodos e quando
seu amigo e correligionário Rodrigo Pacheco assumiu a presidência do Senado,
tratou de nomeá-lo para ser seu diretor de assuntos jurídicos.
A oportunidade para assumir uma cadeira de
senador tardou, mas chegou: graças a um acordo político costurado por Pacheco,
no início de 2022 Anastasia foi escolhido ministro do Tribunal de Contas da
União, liberando a vaga para Silveira assumir.
Silveira chegou chegando, disposto se cacifar
eleitoralmente para conseguir um novo mandato na eleição daquele ano. Novamente
demonstrando uma boa leitura política, recusou dois convites para líder do
governo Bolsonaro no Congresso, pois o PSD se articulava para apoiar Lula.
Com o apoio de Pacheco, relatou projetos de
forte apelo popular, como a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600, a
instituição do vale-gás e do auxílio-caminhoneiro, além da aprovação da Lei
Paulo Gustavo, que destinou recursos para o setor de cultura.
Apesar de toda exposição e do apoio de Lula,
acabou derrotado pelo bolsonarista Cleitinho Azevedo. Como prêmio de
consolação, integrou a equipe de transição para o terceiro mandato lulista, na
área de infraestrutura. Com a entrada do PSD na base do novo governo, coube a
Silveira assumir o ministério de Minas e Energia - novamente uma matéria para a
qual não possui experiência.
Responsável por uma área de forte
movimentação de recursos (com as poderosas Petrobras,
Itaipu e Eletronuclear à frente) e grande impacto econômico e político
(mineração, energia e combustíveis), Silveira tem se equilibrado entre o
alinhamento ao ideário desenvolvimentista do PT e os muitos interesses
empresariais que sua pasta atrai.
Para quem sempre demonstrou ambição política
e soube escolher as mais vantajosas conexões, Silveira está no lugar ideal -
para ele, não necessariamente para o país.
Muito bom! O sujeito é advogado, foi delegado de polícia, mas comanda setores de saúde, transportes, e agora MINERAÇÃO E ENERGIA no ministério Lula 3. Impressionante... Parabéns ao colunista pela ótima exploração do assunto, e ao blog que divulga seu trabalho realmente INVESTIGATIVO!
ResponderExcluirMisericórdia!
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