O Estado de S. Paulo
O dinheiro escasseia. Não está mais tão barato arrancá-lo; nada fácil fabricá-lo
O Ministério do Planejamento entrou na
clandestinidade. O aparelho está por cair; seus técnicos conspirando contra as
indexações-vinculações que agravam a subordinação do Brasil ao império do
gastar o que não pode. Flertam os conjurados com a ideia perigosa de fazer
escolhas. Ameaçam difundir que grana não dá em árvore.
E então sussurram o óbvio, os traidores da Pátria: as contas não fecham. O dinheiro escasseia. Não está mais tão barato arrancá-lo; nada fácil fabricá-lo. Avançado já o segundo ano de governo... O mundo real se impõe.
A ministra Tebet tem paradeiro desconhecido
depois de haver atentado contra a frente ampla. Expôs a saturação do fiscalismo
haddadeano – aquele exercido via crescimento eterno da arrecadação. E tentou
plantar a bomba da reforma estrutural na engenharia das despesas. Não haveria
outro jeito, de acordo com essa inimiga da Nação. É procurada.
Ainda assim, os resistentes subversivos ousam
segredar que 24 veio sem PEC da Transição. Poucos se lembram do troço.
Conveniente esquecê-lo. Uma injustiça, pois o projeto inicial do governo de
reconstrução previa que se reproduzisse a graça. Seria a PEC da Transição
Permanente.
Não que seu esbanjamento solo, em 23, tenha
sido ineficaz. Fez Fernando Haddad um ministro da Fazenda crível, senhor da
estabilidade fiscal. Com R$ 150 bilhões extras para iniciar os trabalhos,
qualquer um vende futuro de metas superavitárias. Com cara de pau, até se
comemoram contas poucamente deficitárias. “Gestão no caminho certo.”
Triunfo do oximoro, também sua melhor
expressão: Haddad ao mesmo tempo responsável fiscalmente e ministro da Fazenda
deste Dilma III.
A conta nunca fechou. E o dinheiro acabou.
Relativize-se o “ministro da Fazenda crível”. Crer pode ser bom negócio. A
temporada do Haddad Meta Zero fez bons preços. Para que se avalie o tamanho do
“me engana que eu gosto”: produziu o arcabouço fiscal e houve quem empenhasse a
credibilidade em identificar no bicho, natimorto ao primeiro olhar, compromisso
com o controle das despesas.
O arcabouço fiscal, senhoras e senhores!
Aquele cujo presunto finalmente se avista e que intoxica todo e qualquer marco
de credibilidade. A própria constituição – a bíblia – do império gastador dos
bilhões que não há. Crer será bom negócio quando a expiração da fé for
previsível. O governo é previsível.
E ora temos a Lei de Responsabilidade Fiscal
em xeque, segundo ótima reportagem de Daniel Weterman. “Em xeque” pressuporia a
existência desafiada do organismo. Isso é coisa do passado. A resistência – uma
década de perecimento – foi vencida. Letra morta, a LRF. Morreu em nome de novo
voo de galinha. Enterrada como indigente.
Cruzes!
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