terça-feira, 21 de maio de 2024

Eliane Cantanhêde - Verdade nua e crua

O Estado de S. Paulo

Acusações contra a Lava Jato e montanhas de provas não se anulam, se confirmam

Depois de semanas dedicadas à tragédia gaúcha, a pauta desta terça-feira, 21/5, em Brasília, está voltada para a Lava Jato, no Supremo, no TSE e na Câmara dos Deputados. Lembram da Lava Jato? Sim, essa mesma, a que já foi considerada a maior operação de combate à corrupção no Brasil e uma das maiores no mundo, mas sofreu uma reviravolta estonteante e caiu em desgraça. Todos os acusados já estão soltos, mas a Lava Jato continua pairando no ar.

No dia seguinte à decisão do ministro Flávio Dino de manter o afastamento dos desembargadores Carlos Eduardo Thompson Flores e Loraci Flores de Lima, do TRF-4, que atuaram em processos da Lava Jato, o Supremo deve julgar hoje um pedido do ex-presidente do PT José Dirceu para a extinção da pena por corrupção passiva no contexto da Lava Jato.

Com uma biografia de filme e um dos principais e mais polêmicos líderes da história do PT, Dirceu foi chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula, acabou preso pelo mensalão e chegou a ser condenado a mais de 30 anos de prisão pelo então juiz Sérgio Moro na Lava Jato. Entrou e saiu da cadeia, mas nunca chegou perto de cumprir essa pena.

Também hoje, o TSE retoma o julgamento sobre a cassação do ex-juiz, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, excandidato à Presidência e agora senador Sérgio Moro. Acusado de abuso de poder econômico, caixa 2 e uso indevido dos meios de comunicação, Moro foi absolvido pelo TRE do Paraná. O PL de Bolsonaro e a federação partidária que inclui o PT de Lula entraram com recurso no TSE, que pode manter a decisão do TRE ou determinar a cassação. A expectativa é de que Moro salve o pescoço.

Às 14h, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara promove um “debate produtivo” sobre os dez anos da Lava Jato, que começou em 2014 e balançou os meios políticos, empresariais e jurídicos. A sugestão foi dos deputados Adriana Ventura (Novo) e Kim Kataguiri (União), ambos de São Paulo, favoráveis à Lava Jato e de oposição ao governo Lula.

Estarão lá o ex-procurador Deltan Dallagnol, porta-voz da Lava Jato, que teve o mandato de deputado federal cassado pelo TSE, e dois dos advogados mais contundentes nas críticas à operação: Alberto Toron e Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Logo, haverá um confronto entre, de um lado, os métodos considerados condenáveis da Lava Jato e, de outro, a montanha de provas e delações sobre o sistema de corrupção na Petrobras – além da devolução de bilhões de reais por parte dos acusados. Na verdade, nua e crua, esses dois pontos de vista não se anulam. Ao contrário, se confirmam.

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