O Estado de S. Paulo
O mundo está ficando fortemente protecionista
e cria um novo problema de política econômica para o Brasil. O produto
brasileiro já não vai competir apenas com um produto produzido por economias
liberais. O protecionismo brasileiro terá agora de competir também com o
protecionismo dos outros.
Nesta segunda-feira, o presidente Biden, dos Estados Unidos, sobretaxou em 100% os carros elétricos da China. Não ficou só nisso. Aumentou substancialmente as tarifas de importação de semicondutores, baterias elétricas, painéis solares e minerais estratégicos.
O alvo geral não é apenas o produto chinês. A
última edição da revista The Economist publicou matéria de capa sobre o
“desmoronamento da ordem global liberal”, editada também no portal do Estadão.
Lá foi relatada a escalada da guerra de subsídios entre países; a fragmentação
dos fluxos globais de capital; a perda de relevância das instituições de
salvaguarda do sistema liberal, como a Organização Mundial do Comércio, o Fundo
Monetário Internacional e o Conselho de Segurança da ONU. Até mesmo as decisões
da Corte Internacional de Justiça, de Haia, não vêm sendo respeitadas.
Esse movimento de retranca tem a ver com
muita coisa. Tem a ver, por exemplo, com a perda de hegemonia relativa da
principal potência até aqui, os Estados Unidos. Também com a ascensão da China
como grande potência econômica e política; e poderá ter muito a ver com a
necessidade de uma rápida transição energética, dos combustíveis fósseis para
os combustíveis limpos.
Até agora, a ordem econômica liberal
construída ao longo do século 20 coincidiu com o interesse maior, de expansão
da economia dos Estados Unidos ao redor do mundo. Mas há anos a indústria
norte-americana não consegue mais competir com mercadorias de procedência
asiática produzidas com mão de obra muito mais barata. Muitas indústrias do
Ocidente migraram para a Ásia para achatar custos, com impacto sobre o PIB dos
seus países. Agora, a China vem desenvolvendo novas tecnologias, mais baratas e
mais eficientes.
O Brasil também vem sentindo o baque da
entrada de produtos asiáticos. A indústria de transformação, historicamente tão
protegida, continua desmilinguindo inexoravelmente e segue pedindo mais
proteção.
Há muita coisa nova a desenvolver no Brasil,
especialmente a partir das novas bases da transição energética. No entanto, o
governo Lula não consegue fazer outra coisa senão seguir o figurino antigo, que
já deu o que tinha de dar e que, a partir dos anos 1990, começou a dar errado.
Distribui subsídios, desonerações, reservas de mercado, um perdão fiscal
emendado no outro (Refis) e obriga a Petrobras a despejar dinheiro na falida
indústria naval, em refinarias e em centrais petroquímicas.
Pior, até agora nem sequer entendeu que não
tem condições mínimas de montar protecionismo capaz de competir com o
protecionismo dos outros.
E onde fica o livre comércio tão vantajoso? E a fantástica e supostamente inevitável globalização?
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