O Estado de S. Paulo
Lula combinou ação rápida no RS e empatia por obrigação e cálculo político. Sai ajuste fiscal, entra gasto
Além de um freio de arrumação na relação
entre os Poderes e um chacoalhão na divisão insana da sociedade, a tragédia no
Rio Grande do Sul alivia a pressão sobre o governo e o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, por equilíbrio fiscal. Agora, Haddad está livre, leve e solto
para gastar, como o presidente Lula sempre gostou.
Lula uniu a obrigação de agir com um cálculo político. Provocou uma comparação positiva para ele com o antecessor, ao ir já no dia seguinte para o Estado, enquanto Jair Bolsonaro se esbaldou de jet-ski em Santa Catarina durante inundações na Bahia. E evitou uma comparação negativa com a liberação de montanhas de verbas emergenciais na pandemia de covid-19.
As chuvas, mortes e consequências drásticas
nas empresas, serviços e na fundamental produção agrícola do Estado mudaram a
pauta do País: sai a divisão entre os setores privados gritando por ajuste
fiscal e o setor público, com Lula à frente, fazendo campanha por gastos; entra
a responsabilidade – que não é apenas fiscal.
Haddad foi obrigado a dar um cavalo de pau.
Até aqui, só guerreava para aumentar a arrecadação e convencer o mundo e o
mercado da seriedade da política externa brasileira e atrair investimentos.
Desde 1.º de maio, quando a tragédia começou, ele passou a quebrar a cabeça com
Câmara e Senado para arranjar verbas para a emergência.
Na avaliação do governador Eduardo Leite,
serão necessários R$ 19 bilhões. Bem... quem fala em R$ 19 bilhões está, na
verdade, contando com mais de R$ 20 bilhões. O governo federal anunciou pacote
de R$ 50 bilhões, mas, na ponta do lápis, isso se resume a R$ 7 bilhões em
dinheiro nessa fase inicial.
O governo também anunciou auxílios diretos
para a população gaúcha, como antecipação do Bolsa Família, além de fazer uma
negociação justa com o Congresso: um libera uma bolada em emendas, o outro se
compromete a destinar esses recursos para o Estado.
O Brasil também se uniu para ajudar a
população gaúcha, salvando vidas, enviando mantimentos e dinheiro para ajudar o
Estado. É de uma tristeza sem fim que, em meio a essa onda de responsabilidade
pública e solidariedade humana, haja quem seja capaz de produzir fake news
contra ações do bem e até de roubar, saquear, importunar mulheres e menores de
idade.
Se conseguiram duvidar sobre quem executou o
8 de Janeiro, hoje não cabe dúvida: manter a polarização e os ataques a
governos e instituições pode interessar aos “adversários”, que precisam disso
para se manter à tona, mas não interessa nem um só milímetro para Lula. Nem
para os Poderes, os Estados e a civilidade nacional.
É verdade.
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