sexta-feira, 10 de maio de 2024

Eliane Cantanhêde - O chacoalhão

O Estado de S. Paulo

Lula combinou ação rápida no RS e empatia por obrigação e cálculo político. Sai ajuste fiscal, entra gasto

Além de um freio de arrumação na relação entre os Poderes e um chacoalhão na divisão insana da sociedade, a tragédia no Rio Grande do Sul alivia a pressão sobre o governo e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por equilíbrio fiscal. Agora, Haddad está livre, leve e solto para gastar, como o presidente Lula sempre gostou.

Lula uniu a obrigação de agir com um cálculo político. Provocou uma comparação positiva para ele com o antecessor, ao ir já no dia seguinte para o Estado, enquanto Jair Bolsonaro se esbaldou de jet-ski em Santa Catarina durante inundações na Bahia. E evitou uma comparação negativa com a liberação de montanhas de verbas emergenciais na pandemia de covid-19.

As chuvas, mortes e consequências drásticas nas empresas, serviços e na fundamental produção agrícola do Estado mudaram a pauta do País: sai a divisão entre os setores privados gritando por ajuste fiscal e o setor público, com Lula à frente, fazendo campanha por gastos; entra a responsabilidade – que não é apenas fiscal.

Haddad foi obrigado a dar um cavalo de pau. Até aqui, só guerreava para aumentar a arrecadação e convencer o mundo e o mercado da seriedade da política externa brasileira e atrair investimentos. Desde 1.º de maio, quando a tragédia começou, ele passou a quebrar a cabeça com Câmara e Senado para arranjar verbas para a emergência.

Na avaliação do governador Eduardo Leite, serão necessários R$ 19 bilhões. Bem... quem fala em R$ 19 bilhões está, na verdade, contando com mais de R$ 20 bilhões. O governo federal anunciou pacote de R$ 50 bilhões, mas, na ponta do lápis, isso se resume a R$ 7 bilhões em dinheiro nessa fase inicial.

O governo também anunciou auxílios diretos para a população gaúcha, como antecipação do Bolsa Família, além de fazer uma negociação justa com o Congresso: um libera uma bolada em emendas, o outro se compromete a destinar esses recursos para o Estado.

O Brasil também se uniu para ajudar a população gaúcha, salvando vidas, enviando mantimentos e dinheiro para ajudar o Estado. É de uma tristeza sem fim que, em meio a essa onda de responsabilidade pública e solidariedade humana, haja quem seja capaz de produzir fake news contra ações do bem e até de roubar, saquear, importunar mulheres e menores de idade.

Se conseguiram duvidar sobre quem executou o 8 de Janeiro, hoje não cabe dúvida: manter a polarização e os ataques a governos e instituições pode interessar aos “adversários”, que precisam disso para se manter à tona, mas não interessa nem um só milímetro para Lula. Nem para os Poderes, os Estados e a civilidade nacional.

 

Um comentário: