Folha de S. Paulo
Interdição a discussões como desvincular
benefícios previdenciários de salário mínimo dificulta busca por equilíbrio
fiscal
Nas últimas semanas, economistas vêm
mostrando, em colunas e entrevistas, que existem inconsistências
graves no arcabouço
fiscal brasileiro. As várias vinculações e indexações ao lado
da política de valorização do salário
mínimo fazem com que o Orçamento caminhe para tornar-se uma
quimera. E isso ocorreria mesmo que o governo conseguisse aumentar "ad
libitum" suas receitas.
Pelo sistema vigente, mais arrecadação resulta automaticamente em incremento dos gastos em educação e saúde; ganhos reais para o salário mínimo se transformam em fatias cada vez maiores de despesas obrigatórias. Não importa o que se faça, os gastos carimbados tomarão o espaço de todos os demais, incluindo aqueles que, sem ser obrigatórios, são indispensáveis, como pagar as contas de luz da administração. O crescente apetite de parlamentares por emendas só agrava o problema.
Os argumentos utilizados por esses
economistas são aritméticos, de modo que, para negá-los racionalmente, seria
necessário recorrer àquelas interpretações exuberantes (e erradas) dos teoremas
da incompletude de Gödel,
que transformariam a própria matemática em apenas mais um discurso (o do
opressor!).
As dificuldades não passaram despercebidas
à equipe
econômica do governo. O problema é que nem Lula nem
o PT podem
ouvir falar em desvincular
os investimentos em saúde e educação e menos ainda em
desindexar os benefícios
previdenciários do salário mínimo. Esses são assuntos tabu e a
pena para quem blasfema é o opróbrio eterno.
A consequência disso é que os técnicos do
governo tentarão mitigar o problema recorrendo a tecnicismos, como trocar
"receita corrente líquida" por "receita líquida ajustada".
Isso é muito ruim e até um pouco antidemocrático, já que esconde uma discussão
necessária. O Orçamento público e debatido no Congresso existe justamente para
que o país possa conhecer suas limitações financeiras e definir prioridades.
O Teorema de Gödel é da década de 1930 e produziu uma revolução no pensamento da matemática. Seria bom explicar melhor o que ele tem a ver com a economia. Gostei do artigo,
ResponderExcluirOs leitores do blog são tão inteligentes quanto os colunistas.
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