Valor Econômico
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já
estava devidamente instalado no trator quando o governador gaúcho escorregou na
lama. Ao dizer que o excesso de doações impacta o comércio do Rio Grande do
Sul, e se desculpar em seguida, Eduardo Leite mostrou o quão perdido está na
catástrofe que se abate sobre seu Estado, redobrando a responsabilidade do
Planalto.
Acelerado, o trator presidencial rompe as divisas gaúchas e expõe Lula a riscos precoces. Do Rio Grande do Sul à Petrobras. É verdade que a tragédia gaúcha permitiu ao Executivo retomar um governo que andou terceirizado para o STF. A investida contra as notícias falsas, por exemplo, poderia ter sido agregada ao inquérito do fim do mundo, mas achou-se por bem incumbir o discreto ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, que toca os processos na primeira instância da Justiça Federal em vários Estados, e deixar o ministro Alexandre de Moraes recuado.
Ao nomear Paulo Pimenta para a Pasta da
reconstrução do Rio Grande do Sul, Lula optou por um ministro que conhece seu
Estado e já não estava funcionando na comunicação, mas arrumou um problema.
Não que a solução para o Rio Grande do Sul
seja “técnica”. Assim como as razões que levaram ao desastre passaram por
escolhas políticas, da ocupação do solo à alocação orçamentária, aquelas que
presidirão a recuperação do Estado também o serão.
O problema é que será difícil separar a
dedicação de Pimenta ao cargo de sua pretensão ao Palácio do Piratini, levando
o governo a concorrer na politização da tragédia, raia em que a extrema-direita
vinha nadando de braçada.
Há planos robustos para o Estado. A equação
financeira que Fazenda e Congresso estão a viabilizar é consistente, mas nenhum
dinheiro será suficiente para tamanha tragédia, o que pressionará por mais
gastos. Sua frustração, num Estado em que Jair Bolsonaro ganhou folgado em
2022, o PT tem apenas 4,6% das prefeituras e 22,5% da bancada federal, é
combustível para a extrema-direita.
Nada parece mais equivocado do que ver nesta
tragédia a Covid de Lula. E não apenas pela escala incomparável de mortes. A
pandemia levou à redução generalizada de juros e a rios de dinheiro despejados
na economia mundial. O movimento lastreou a gastança bolsonarista que levou o
déficit público a 9% do PIB em 2020 e deixou Bolsonaro a um triz da reeleição.
Por mais solidariedade mundial que enseje, a tragédia é gaúcha e o gasto,
nacional. Se o governo extrapolar, não apenas não beneficiará o conjunto da população
brasileira, como ainda corre o risco de prejudicá-la com inflação.
A tragédia gaúcha não é a única fonte de pressão fiscal. Antes disso, a corda entre o presidente e o ministro da Fazenda já estava tracionada, vide a declaração de Lula - “mesmo se você [Haddad] não der certo, meu governo dará” e o recuo do ministro do endosso ao cardápio de corte de gastos do economista Bráulio Borges.
Pesa sobre Haddad a mesma pressão que levou à
queda do presidente da Petrobras,
Jean Paul Prates, a de que a pauta do mercado supera a do governo. Sobre ambos
também pesa o azedume do PT e do titular da Casa Civil, Rui Costa. Ministros
que participaram da reunião de segunda foram testemunhas do aval de Lula a
Costa, alvo generalizado da Esplanada.
Lula estica a corda com Haddad porque, embora
saiba que, sem o ministro, o aval do PIB a seu governo arrisca desabar antes do
tempo, tem ainda mais certeza de que Haddad só existe politicamente ao seu
lado.
A corda de Prates se rompeu porque Lula tinha
alternativas. A expectativa do Planalto é que Magda Chambriard seja mais
receptiva à expectativa de que a Petrobras desove
investimentos vedados ao fôlego fiscal da União e à retranca da iniciativa
privada. Há limites, porém.
O veto da empresa aos planos do Ministério
das Minas e Energia em alavancar o setor de gás por meio da estatal demonstra
que a governança erguida depois da Lava-jato oferecerá alguma resistência à
reprise da lambança passada.
O presidente mantém-se acossado pelo encanto
crescente despertado pelos governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ronaldo
Caiado (GO). Setores centristas que optaram por seu nome em 2022 contra o
bolsonarismo já têm alternativas. Lula parece ter visto na profusão de
oportunidades das últimas semanas combustível para encher o tanque do trator
com o qual pretende enfrentá-los.
Em ano de eleição municipal, presidentes
sempre se fortalecem. Como os parlamentares precisam liberar recursos para suas
bases eleitorais, ficam mais abertos a acordos com o governo, vide o trato com
o PL do senador Flávio Bolsonaro para adiar a votação do veto da “saidinha”.
Tudo isso pode fazer com que Lula ganhe tempo
até a reforma ministerial. Parece possível que consiga adiá-la para novembro,
com o apurado das urnas das eleições municipais. O problema é que o prognóstico
para o PT é azedo. Depois que inventaram as emendas “pix”, o governismo deixou
de ser vantajoso em eleição, diz um PhD no tema.
Até lá, Lula pretende, a partir da
reconstrução gaúcha, mostrar que o governo tomou o rumo da empatia, da
humanidade e da sustentabilidade e, a partir da Petrobras,
que o investimento público é novamente alavanca de crescimento.
Só não dá para ignorar os sinais de alerta que podem aparecer ao longo do caminho - um partido enfraquecido pelas urnas, um investidor assustado e um trator de tanque vazio.
A colunista foi totalmente INJUSTA com o governador do RS, ao afirmar que "Eduardo Leite mostrou o quão perdido está na catástrofe que se abate sobre seu estado". Não gosto de Leite, e dificilmente votaria nele. Mas ele está fazendo muito esforço nesta catástrofe, e realmente comanda com dedicação e até eficiência as ações para minorar os problemas, que em parte ele mesmo e seu governo causou ou acentuou.
ResponderExcluirConcluir que Leite está "perdido" por ter dado uma declaração infeliz, em meio a dezenas de entrevistas diárias e reuniões de todos os tipos, nas piores condições possíveis, é uma tremenda MENTIRA da colunista, que certamente pouco acompanha as ações do governo do RS. E o governador já teve a grandeza de rapidamente reconhecer seu erro e pedir publicamente desculpas.
Há muitos motivos pra criticar Leite, mas a conclusão da colunista é totalmente descabida e INJUSTA! Se o restante da coluna não estivesse tão bem ponderada, eu poderia pensar que quem estaria "perdida" seria a colunista, mas tb ela tem direito a algum escorregão nas suas ideias. Mas, diferentemente de Leite, duvido que ela peça desculpas pela BOBAGEM que escreveu.
O governador do Rio Grande do Sul estar preocupado com o comércio local não tem nada de errado.
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