sábado, 11 de maio de 2024

Rodrigo Zeidan - A reconstrução do Rio Grande do Sul

Folha de S. Paulo

Podemos aprender com erros e acertos de experiências como o furacão Katrina

Os efeitos econômicos de desastres naturais podem ter dono ou não. Não me interessa muito, neste momento, buscar culpados. Como muitos brasileiros, admiro quem está fazendo o máximo para ajudar e espero muito mais das esferas governamentais. Obrigado a todos os brasileiros que estão doando, dos mais pobres às celebridades, que estão gastando tempo e dinheiro tentando fazer algo.

Como analista, me preocupo com a reconstrução de Porto Alegre e outras cidades. E, sim, partes de muitas cidades precisam ser reconstruídas, não na sua essência, mas em infraestrutura e organização para sobreviver aos próximos desastres, alguns que serão inevitáveis. E podemos aprender com os erros e acertos de experiências internacionais, como as dos furacões Katrina e Rita, que devastaram Nova Orleans e outras cidades em 2005.

O Estado americano colocou montanhas de dinheiro para a reconstrução. De acordo com Kevin Gotham, de 2005 a 2011, o programa GO Zone entregou US$ 23 bilhões em subsídios livres de impostos para famílias e empresas nas áreas afetadas. Além disso, O Departamento Federal de Desenvolvimento Urbano investiu mais US$ 19 bilhões para apoiar a reconstrução de infraestrutura.

O problema foi a falta de planejamento desses programas. O dinheiro não foi alocado de forma eficiente, muitas vezes indo para áreas pouco afetadas. A maior parte dos subsídios comerciais foi para as grandes empresas, as que precisavam menos de ajuda.

Houve também muitos gastos ineficientes regionalmente. Webster e Adelson mostram, em uma análise de 92 mil subvenções, que o principal programa do departamento federal, Road Home, entregou para os bairros mais ricos mais dinheiro do que precisavam e deixou as áreas mais pobres com muito menos recursos do que necessitavam. Para ter uma ideia, se as famílias nas áreas mais pobres tivessem recebido os mesmos recursos, cada uma teria recebido, direta ou indiretamente, mais US$ 18 mil.

Pelo menos há esperança em relação ao mercado de trabalho. Estudos de Groen e PolivkaZissimopoulos e Karoly e Brown e coautores mostraram que efeitos sobre o desemprego local duraram somente cerca de um ano nos estados da Louisiana e do Mississippi, com número de postos de trabalho e desemprego no nível pré-Katrina depois disso. Ainda assim, os efeitos de curto prazo foram grandes, com número de empregos formais caindo 35% em Nova Orleans e 12% em todo o estado da Louisiana.

No Brasil, muitas vezes o sujeito é indeterminado. Problemas não têm donos e ninguém coloca a cara a tapa para admitir erro. Em casos de desastres naturais, às vezes não há mesmo o que fazer, embora haja como se preparar minimamente (o que o governo do Rio Grande do Sul parece não ter feito).

Mesmo que a prevenção completa não seja possível, é ainda mais importante ter processos para lidar com as consequências. Precisamos de recursos robustos para as comunidades do Rio Grande do Sul quando o pior da crise passar, para ajudá-las a se reerguer. No mínimo, precisamos aprender com os erros dos outros.

É possível fazer direito, limitando os danos de longo prazo e ajudando os mais pobres (renda diretamente para eles é sempre o melhor remédio). O problema é que vão aparecer abutres em cima de qualquer dinheiro para o Sul.

Que desta vez eles não consigam e tenhamos uma resposta que seja tão forte quanto as de quem tem ajudado. De verdade.

 

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