quarta-feira, 15 de maio de 2024

Vera Rosa - Lula e a tragédia que não tem mais fim

O Estado de S. Paulo

Há quem diga que a catástrofe no Rio Grande do Sul é a covid do governo Lula

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de anunciar novas medidas de socorro ao Rio Grande do Sul no próprio Estado não foi apenas para ter a seu lado os chefes dos Poderes na viagem. Lula desembarcará hoje em Canoas e, desta vez, quer visitar ao menos um abrigo, em São Leopoldo.

A portas fechadas, o presidente reclamou muito com auxiliares de terem montado para ele uma agenda que o mantinha numa sala, sem contato com as vítimas, nas duas vezes em que esteve no Rio Grande do Sul. Nos últimos dias 2 e 5, Lula sobrevoou regiões alagadas e fez pronunciamentos. Mas medidas de grande impacto, como a suspensão da dívida com a União por três anos e um pacote de R$ 50,9 bilhões, foram divulgadas no Palácio do Planalto.

Agora, Lula vai instalar em Porto Alegre um gabinete federal para coordenar o trabalho durante a calamidade provocada pelas fortes chuvas, que mataram 148 pessoas e deixaram 538 mil desabrigados. O ministro escalado para a tarefa é Paulo Pimenta (Comunicação Social), que em 2026 pretende disputar o governo gaúcho pelo PT.

Além disso, o presidente anunciará um auxílio emergencial para 100 mil famílias que perderam tudo nas enchentes. O valor do voucher deve ser de R$ 5 mil por família.

O desenho das medidas foi fechado ontem em encontro de

Lula com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, e com o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin.

Na véspera, em reunião de emergência com todos os ministros, Lula avaliou que o governo está perdendo a batalha da comunicação para seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse que ministros batem cabeça, anunciando “ideias”, como numa orquestra desafinada.

Ninguém do governo diz publicamente, mas existe uma preocupação da equipe econômica com o futuro do ajuste fiscal. Nos bastidores, há quem diga que a catástrofe no Rio Grande do Sul é a covid do governo Lula. Os mais pragmáticos lembram que o governador Eduardo Leite (PSDB) é adversário de Lula e quer concorrer ao Planalto, em 2026.

Trata-se de um raciocínio mesquinho diante da catástrofe sem precedentes, que pode se agravar ainda mais se o Congresso aprovar o “pacote da destruição”, com 25 projetos de lei e três emendas que “flexibilizam” licenças ambientais.

O cavalo Caramelo, o cachorro vira-lata que continuou “nadando” no ar após ser resgatado, o cardiologista Leandro Medice, do Espírito Santo, morto após trabalhar um dia inteiro como voluntário para salvar vidas, e a bebê Agnes, levada pela enxurrada quando o barco virou, são símbolos dessa tragédia sem fim.

 

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