quarta-feira, 1 de maio de 2024

Vera Rosa - O ‘bode’ que atormenta Lula e os militares

O Estado de S. Paulo

Presidente quer despolitizar quartéis, mas estratégia enfrenta oposição do PT

A cúpula do PT retomou a ofensiva para reduzir o poder dos militares e pressiona o governo Lula a recriar a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. Nos últimos dias, não foram poucas as críticas na direção das Forças Armadas, mas não há acordo no Senado para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que proíbe a candidatura de militares da ativa a cargos eletivos.

O coro das divergências não é puxado apenas pelo senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS). Desde os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 há embates no próprio governo e no PT sobre quais são as mudanças mais eficazes para combater a politização dos quartéis.

“Botaram o bode na sala e agora não sabem o que fazer com ele”, disse à Coluna o general Mourão, que foi vice-presidente da República no governo de Jair Bolsonaro.

Na semana passada, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, chamou Mourão para um almoço com os comandantes das Forças Armadas e com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), autor da PEC dos militares. O general saiu do encontro como chegou, discordando da proposta que transfere os oficiais para a reserva no momento do registro de suas candidaturas.

Mourão afirmou ali que, para ele, um integrante da Força deve se aposentar somente quando for para o governo. Na avaliação de uma ala do PT, porém, é preciso impedir que oficiais ocupem cargos civis de qualquer natureza e disputem eleições.

A restrição consta de outra PEC, de autoria do deputado Carlos Zarattini (PT-SP), com apoio de Rui Falcão, ex-presidente do partido. Em março, na festa de aniversário do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Falcão disse a Múcio que ele vivia “passando pano” na cabeça dos fardados. “Estou cumprindo a missão que o presidente me deu”, respondeu o ministro.

Dirceu concordou com Falcão. “Os militares se transformaram num grupamento da sociedade com muitos privilégios (...) e alguns deles terão que ser revistos”, escreveu ele em artigo na revista Teoria e Debate.

Foi mais uma voz no PT que engrossou o tom contra a caserna. “O problema é que, se um militar não pode ser chamado pelo presidente para assumir um ministério, você está interditando o presidente”, observou Wagner, ex-ministro da Defesa.

Além desse impasse, o PT e o Ministério dos Direitos Humanos cobram a volta da Comissão de Mortos e Desaparecidos, extinta em 2022. “Nós não somos contra. Só precisamos ver se é o tempo certo”, amenizou Múcio. O receio de Lula é que essa comissão abra nova frente de atrito. Era o que faltava para um governo que enfrenta oposição até mesmo nas fileiras do PT.

 

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