Folha de S. Paulo
Aumentar o socorro para o RS, além de
inevitável, vai conter pessimismos
A
economia do Brasil deve crescer 2,5% em 2024, estima o ministério da
Fazenda, entre outras previsões e análises divulgadas nesta quinta-feira (16).
É mais do que previa em março (2,2%), menos do que o PIB cresceu em
2023 (2,9%).
Desde o final do ano passado, também vinha
melhorando a previsão mediana da centena de economistas compilada
pelo Banco Central. Passou de 1,52% para 2,1% na semana passada. Bancos
maiores preveem algo entre 2,2% e 2,5%.
Havia, pois, uma convergência de estimativas,
para cima, para um ritmo maior do crescimento do PIB, embora ainda medíocre.
Medíocre, mas maior do que a média de 1,4% ao ano que vimos entre 2017 e 2019,
depois da Grande Recessão, antes da epidemia.
Havia. Então, sobreveio o horror no Rio
Grande do Sul.
O pessoal da Secretaria de Política Econômica da Fazenda, que faz o estudo, avisa, claro, que não deu tempo de levar em conta a catástrofe. Nem haveria como. Não há dados para estimar nada.
Economistas do setor privado fazem exercícios
baseados em catástrofes similares, do Katrina à
epidemia, mas são apenas hipóteses esvoaçando sobre o vazio terrível das águas.
Os dados disponíveis sobre consumo são
precários, a água ainda encobre a destruição. A enchente não vai refluir tão
cedo em Porto Alegre e cercanias do Guaíba, estimou nesta quinta o Instituto de
Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
"Os cenários de previsão indicam cheia
duradoura, com redução lenta dos níveis abaixo dos 5 metros. Deve permanecer
acima dos 4 metros até o início da semana que vem. Redução segue lenta,
mantendo-se acima da cota de inundação de 3 metros até o final do mês ou mais,
dada a possibilidade de novas chuvas", dizem os pesquisadores.
Quem se arrisca a dar um chute informado
abstrato imagina que o maio de 2024 do Rio Grande do Sul pode ser como o março
ou abril de 2020 da epidemia de Covid. O prejuízo maior iria até junho.
Poderia tirar entre 0,2 e 0,4 ponto
percentual do crescimento final do PIB do Brasil em 2024. Isto é, se a previsão
é de ora de 2,5%, com a catástrofe o PIB cresceria entre 2,1% e 2,3%.
Em si, tal diferença não seria lá relevante,
ainda mais em se tratando de previsões. Mas esses décimos de porcentagem
significam sofrimento extra enorme para os gaúchos. Em termos econômicos, no
mínimo uma recessão no estado.
O setor de serviços, cerca de 60% da economia gaúcha,
vai sofrer o maior impacto imediato, como na epidemia. Muito trabalhador vai
ficar sem renda. Evitar o colapso é urgente. O "Vale Reconstrução" do
governo federal, de
R$ 5.100 para cerca de 235 mil famílias, vai ajudar. Mas é preciso criar
alguma espécie de auxílio emergencial.
Mesmo que funcione, a recuperação da
infraestrutura pode demorar. Vai demorar ainda mais se não se inventar um modo
de acelerar projetos e liberação de verba (com um departamento de planejamento
para evitar obras que ignorem a nova realidade de destruição recorrente).
A epidemia parou ou matou a vida por meses,
mas não destruía infraestrutura econômica e social. A própria reconstrução da
infraestrutura pode acelerar o crescimento depois do desastre, mas vai cobrar
seu preço por meses.
As previsões de crescimento para o Brasil no
primeiro trimestre convergem para algo em torno de 0,7% (0,8%, segundo a
Fazenda) —o resultado oficial, do IBGE, sai em 4 de junho. Para se chegar a
2,5% no final do ano, seria preciso que o crescimento fosse de pelo menos 1%
nos trimestres seguintes. Mas a catástrofe gaúcha pode levar o crescimento a
zero neste segundo trimestre do ano.
Ainda que seja assim, não se pode deixar o
desastre e o sofrimento no Rio Grande do Sul continuar adiante.
Verdade.
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