O Globo
Lula retomou a artilharia contra Roberto Campos Neto. Foi um movimento calculado. Hoje o Copom divulga a nova taxa de juros. A julgar pelas apostas do mercado, vai ignorar os apelos do governo e interromper a sequência de quedas.
Na véspera do anúncio, o presidente disse à
CBN que o chefe do Banco Central “tem lado político” e “trabalha para
prejudicar o país”. “A quem esse rapaz é submetido?”, questionou. “Cadê a
autonomia dele?”
Ele ainda descreveu a política monetária do BC como o principal problema do país. “Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante: é o comportamento do Banco Central”, afirmou.
Lula exagerou nesse ponto. Há muita coisa a
ser ajustada além dos juros altos, incluindo o desequilíbrio nas contas do
governo. Mas é inegável que Campos Neto forneceu munição para ser alvejado.
Depois de colaborar com a campanha de Jair
Bolsonaro e ir votar com a camisa amarela da seleção, o presidente do BC voltou
a flertar em público com o grupo político do ex-chefe.
Na semana passada, recebeu medalha de
deputados bolsonaristas e foi homenageado em jantar pelo governador Tarcísio de
Freitas, virtual adversário do petismo em 2026.
Entre as confraternizações, fez saber que
aceitaria ser ministro da Fazenda num eventual governo Tarcísio. Tudo impróprio
e incompatível com a festejada autonomia do banco.
Um provérbio romano do ano 62 a.C. ensina que
à mulher de César não basta ser honesta: precisa parecer honesta. Ao presidente
do BC, também não basta ser independente: precisa parecer independente.
Ao colar a imagem ao bolsonarismo, Campos Neto despreza a lição.
Pelo que publicaram, há pouco tempo Lula e Campos Neto também curtiram um bom papo regado a churrasco e forrozim a convite do presidente da República. Não faltou uma bela troca de afagos entre ambos após o evento. Enfim.
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Não sabia desse encontro.
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