Folha de S. Paulo
Ministro desvirtuou doutrina sobre remoção de
conteúdo e recuou para evitar novo tiro no pé
Alexandre de
Moraes atirou no chifre da cabeça de um cavalo. Ao derrubar
reportagens sobre acusações de agressão feitas pela ex-mulher de Arthur Lira,
o ministro do STF afirmou
que era preciso interromper a propagação de "discursos com conteúdo de
ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e
democrática".
O material censurado incluía vídeos e textos em que Jullyene Lins dizia ter sido agredida e ameaçada. Descontada a irritação que as declarações devem causar ao presidente da Câmara, é preciso ter fé em unicórnios para afirmar que ali há discurso de ódio, subversão da ordem e quebra da normalidade democrática.
Moraes misturou a reafirmação do próprio
poder com uma dose de benevolência com a defesa de Lira. Os advogados diziam
que ele era alvo de uma campanha coordenada para difundir um fato do qual ele
já foi absolvido. Acrescentaram que o objetivo era desestabilizar o deputado e
"atingir o exercício da elevada função" de presidente da Câmara.
Quando criou o inquérito das fake news, na
chefia do STF, em 2019, Dias Toffoli caminhou por esse terreno pantanoso. O
ministro endossou a
censura a uma reportagem da revista Crusoé que noticiava uma
menção a ele em emails internos da Odebrecht. "Ao atacar o presidente,
estão atacando a instituição", declarou.
O episódio abriu uma crise interna que forçou
o Supremo a modular e fundamentar suas decisões mais do que controversas sobre
remoção de conteúdo. A corte só ficou unida em torno desse processo porque
identificou nos ataques às urnas e nas convocações para um golpe militar uma
ação orquestrada para derrubar um governo eleito. Agora, no caso de Lira, Moraes recuou para
conter os danos de um novo tiro no pé.
As reportagens com acusações a Lira
ressurgiram numa campanha contra a votação do PL Antiaborto
por Estupro. Constrangido, o presidente da Câmara pode processar
quem o acusa, mas dificilmente poderia dizer que alguém está tentando impedir
seu trabalho.
Verdade.
ResponderExcluir