O Globo
A cerimônia de posse de Magda
Chambriard na presidência da Petrobras,
ontem, foi um show de simbolismo. Do local escolhido, o suntuoso centro de
pesquisas da empresa, à presença de sete ministros na plateia e aos discursos
ufanistas, tudo foi programado para passar a mensagem de que o governo
finalmente tomou conta da petroleira.
Pelos discursos de Lula e Alexandre
Silveira, ministro de Minas e Energia, parecia até que não existiu a
gestão Jean Paul
Prates, o CEO que saiu humilhado depois de um ano e meio no cargo e de uma
disputa de poder feroz com Silveira e seu colega da Casa
Civil, Rui
Costa.
Não chega a ser surpreendente. Lula e os ministros viviam se queixando de que Prates não fazia o que queriam. Só não dá para garantir que temos motivos para celebrar.
A história da ascensão de Magda ajuda a
entender por quê. Funcionária de carreira da Petrobras e
presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP)
no governo Dilma
Rousseff, ela já havia sido indicada a Lula para
comandar a petroleira logo no início do mandato por petistas ilustres, entre os
quais João Vaccari Neto.
Para quem não se lembra, Vaccari é
ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo,
ex-tesoureiro de campanha de Dilma e ex-réu da Operação
Lava-Jato.
Preso em 2015 e condenado a 24 anos de cadeia
por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha pela
participação no petrolão, ele passou ao regime semiaberto em 2019 e, em
dezembro do ano passado, sua pena foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
no bojo das decisões que consideraram Sergio Moro suspeito
para julgar os casos contra Lula.
O fato de Vaccari ter aguentado a prisão em
silêncio lhe rendeu gratidão e influência com a reabilitação de Lula.
Ainda assim, apesar da pressão dos companheiros, o primeiro movimento do
presidente foi vetar a indicação de Magda.
Na época, buscando um acordo que não o
deixasse mal com os petistas, Prates ainda sugeriu que ela fosse para o
conselho de administração, mas nem assim Lula topou.
Mesmo quando Prates caiu em desgraça no Planalto, ela não foi a primeira opção
para substituí-lo.
Contudo, ao contrário de Prates, que acumulou
divergências com petistas de diversos calibres, Magda foi reunindo apoio com
promessas que agradaram de Vaccari a Gleisi
Hoffmann, de Silveira a Rui Costa,
passando por sindicatos e partidos da base no Congresso.
Aos poucos, essa frente ampla convenceu Lula de
que ela seria a pessoa ideal para destravar a agenda com que ele sonha desde a
campanha.
O próprio Lula descortinou
essa agenda em seu discurso. Caprichando nos ataques à Lava-Jato — que chamou
de “praga de gafanhoto” destinada não a combater a corrupção, mas a destruir
a Petrobras —
e à privatização, ele defendeu a reativação das fábricas de fertilizantes
vendidas ou desativadas em gestões anteriores por darem prejuízo.
Mencionou a retomada das obras de refinarias
que foram alvo de desvios bilionários no passado e o incentivo a estaleiros que
também já deram bastante dor de cabeça à Petrobras após
a falência
bilionária da Sete Brasil.
Falou em retomar a produção de gás natural e
em destravar a exploração de petróleo em alto-mar na região Amazônica, hoje
pendurada na resistência do Ibama.
E garantiu: a Petrobras dos
velhos tempos vai voltar.
A gestão de Magda mal começou, portanto é
preciso esperar para conferir quais promessas cumprirá e quais colocará na
conta de fatores externos ou do “excesso de governança” da companhia, que
depois do petrolão passou a exigir avaliações de retorno financeiro de
diferentes comitês. Deu para ver que ela está empenhada em agradar à frente
ampla.
Depois de semanas em costuras de
bastidores, pôs
na área financeira um ex-diretor da Previ, fundo de pensão do Banco do
Brasil tido como feudo político de Vaccari; na diretoria jurídica, um
aliado de Costa vindo diretamente do Palácio do Planalto; nas áreas de
engenharia e de exploração, duas executivas de carreira identificadas com o
sindicalismo.
E, para não deixar dúvida sobre quem são seus
credores políticos, chamou para discursar, no mesmo patamar de importância dos
ministros, o presidente da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Bacelar.
No palco, usando o uniforme laranja dos
petroleiros, ele criticou a distribuição de dividendos, pediu a reestatização
de ativos, atacou a Lava-Jato e entoou slogans de “luta e resistência” em
defesa da Petrobras.
Lula assistiu
a tudo orgulhoso e, ao final de seu discurso, resumiu por que investiu tanto
capital político no simbolismo da posse de Magda. “Se a Petrobras der
certo, o país vai dar certo. Se der errado, o Brasil também vai dar.” Aí é que
mora o perigo.
Tudo em nome das pressões e abocanhamento pelos Companhêros.
ResponderExcluir😏😏😏
Não há lógica no raciocínio: "na obra x houve desvios, haverá novamente". Basta ler um pouco de Popper ou antes de insinuar bobagem.
ResponderExcluirAtacam a fábrica de fertilizantes no Brasil, mas quando vem uma pandemia ou uma guerra, como fica o agro?
Sergio Caires é cínico. Só tem 2 nomes? MAM
ResponderExcluirNa torcida.
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