domingo, 16 de junho de 2024

Bruno Boghossian - Tática de isolar extrema direita dá sinais de fadiga na Europa

Folha de S. Paulo

Falta de coordenação e mudança na preferência do eleitor abre buracos no chamado cordão sanitário

Por muito tempo, a Europa confiou que um apelo às forças políticas moderadas seria suficiente para isolar a extrema direita. A coalizão entre esquerda e centro-direita para bloquear o Chega em Portugal, a reprovação multipartidária à AfD na Alemanha e a união contra os Le Pen na França são exemplos desse caminho.

A consolidação da ultradireita na paisagem partidária, os ajustes cosméticos feitos por algumas legendas, a simpatia crescente do eleitores e o acovardamento de representantes da direita tradicional, porém, abrem buracos nesse cordão sanitário.

Na França, um flerte com Marine Le Pen rachou a legenda conservadora Republicanos. O líder do partido, Éric Ciotti, disse que topava uma aliança com a ultradireitista Reunião Nacional para evitar a vitória da esquerda na próxima eleição. Acusado por colegas de "vender a alma", o político acabou expulso do partido.

A boa vontade com plataformas de extrema direita já provocou terremotos em países como Brasil e EUA. Na Europa, esse processo se desenha de maneira gradual, refletindo transformações políticas e sociais que ajudam a explicar o enraizamento desses partidos no eleitorado.

Analistas apontam que alguns grupos de ultradireita fizeram mudanças internas depois que se cansaram da rejeição que sofriam nas elites políticas e em fatias da população cruciais para a conquista de maiorias eleitorais. Em cálculos pragmáticos ou puramente ardilosos, certos partidos suavizaram discursos e buscaram se diferenciar de antigos parceiros considerados mais radicais.

Logo ao lado, políticos da direita tradicional ensaiam alianças oportunistas para evitar o que muitos identificam como uma ameaça de extinção. Essas legendas perderam mercado nos últimos tempos para uma ultradireita que passou a oferecer uma alternativa sedutora aos velhos eleitores daquele campo.

Hoje, a tática do isolamento parece mais frágil tanto do ponto de vista da coordenação dos atores políticos como por consequência de mudanças nas preferências do eleitor.

 

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