Folha de S. Paulo
Falta de coordenação e mudança na preferência
do eleitor abre buracos no chamado cordão sanitário
Por muito tempo, a Europa confiou
que um
apelo às forças políticas moderadas seria suficiente para isolar a
extrema direita. A coalizão entre esquerda e centro-direita para bloquear o
Chega em Portugal,
a reprovação multipartidária à AfD na Alemanha e
a união contra os Le Pen na França são
exemplos desse caminho.
A consolidação da ultradireita na paisagem partidária, os ajustes cosméticos feitos por algumas legendas, a simpatia crescente do eleitores e o acovardamento de representantes da direita tradicional, porém, abrem buracos nesse cordão sanitário.
Na França, um flerte com Marine Le Pen rachou
a legenda conservadora Republicanos. O líder do partido, Éric Ciotti, disse
que topava uma aliança com a ultradireitista Reunião Nacional para evitar a
vitória da esquerda na próxima eleição. Acusado por colegas de "vender a
alma", o político acabou expulso do partido.
A boa vontade com plataformas de extrema
direita já provocou terremotos em países como Brasil e EUA. Na Europa, esse
processo se desenha de maneira gradual, refletindo transformações políticas e
sociais que ajudam a explicar o enraizamento desses partidos no eleitorado.
Analistas apontam que alguns grupos de
ultradireita fizeram mudanças internas depois que se cansaram da rejeição que
sofriam nas elites políticas e em fatias da população cruciais para a conquista
de maiorias eleitorais. Em cálculos pragmáticos ou puramente ardilosos, certos
partidos suavizaram discursos e buscaram se diferenciar de antigos parceiros
considerados mais radicais.
Logo ao lado, políticos da direita
tradicional ensaiam alianças oportunistas para evitar o que muitos identificam
como uma ameaça de extinção. Essas legendas perderam mercado nos últimos tempos
para uma ultradireita que passou a oferecer uma alternativa sedutora aos velhos
eleitores daquele campo.
Hoje, a tática do isolamento parece mais
frágil tanto do ponto de vista da coordenação dos atores políticos como por
consequência de mudanças nas preferências do eleitor.
Um comentário:
Pois é,falaram tanto...
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