Folha de S. Paulo
Deputado caminhava bem, até decidir render
homenagem à obsolescência legislativa
O poder é bicho traiçoeiro. Tanto confere
altitude ao dono como lhe retira de sob os pés a escada quando a esperteza
despreza os conselhos do bom senso. É nessa zona de perigo que entrou o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PL),
ao abrir o baú de anacronismos para atrair a ala reacionária do eleitorado
interno ao plano de fazer o sucessor.
O deputado pode, e tudo indica que conseguirá, eleger o substituto em fevereiro de 2025. Mas se arrisca a sair do posto menor do que entrou e a descer a rampa do Congresso Nacional sob a égide de inimigo da opinião pública representada pela instituição que preside.
Lira saiu-se mal ao desengavetar projetos
desprovidos de relevância e urgência para a sociedade, mas relevantes e
urgentes para os propósitos ideológicos daquela parcela da Câmara de quem
ambiciona ter votos em detrimento do consenso prevalente na população.
O deputado caminhava bem em seu acordo com o
presidente Lula (PT) de ajudar nas propostas econômicas de interesse do país,
se abster na agenda de costumes e posicionar-se contra agendas marcadamente
petistas.
Nesse cenário, a ideia era figurar como
fiador da reforma tributária e de propostas atinentes a avanços na economia.
Até que resolveu render homenagem à obsolescência legislativa.
O presidente da Câmara escolheu aparecer como
avalista do atraso no apoio às propostas de equiparação do aborto ao
homicídio, de restrição ao uso das delações premiadas e de anistia aos
partidos em débito com a Justiça Eleitoral por uso indevido do fundão de R$ 4,9
bilhões.
Lira reclama de as críticas serem
concentradas na pessoa dele, reivindica dividir o prejuízo com o colégio de
líderes, mas, claro, aprecia quando se vê reconhecido como detentor de
influência absoluta sobre o Poder Legislativo.
Um ganho questionável quando tal poder se põe
na condição de antagonista da consciência média do país.
Verdade.
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