sexta-feira, 28 de junho de 2024

Fabio Giambiagi - Por que a produtividade deve ser nossa prioridade

O Globo

De 1980 a 2023, a produtividade se expandiu ao ritmo de 0,1% ao ano. Está na hora de o tema ser tratado como prioridade pela liderança política

O PIB de um país só pode aumentar por conta de um dos seguintes fenômenos: i) porque há mais pessoas produzindo; ii) porque há mais capital, na forma de máquinas, equipamentos ou construção civil; e/ou iii) porque, dada a mesma quantidade desses fatores, eles são combinados de forma a poder produzir mais.

Comecei a estudar Economia em 1980. Nos 40 anos anteriores, com todas as qualificações que possam ser feitas à qualidade das estatísticas antigas, o fato é que a produtividade por pessoa ocupada no Brasil aumentara à respeitável taxa de 4,2% a.a. Já nos 43 anos entre 1980 e 2023, a mesma variável se expandiu ao ritmo vergonhoso de 0,1 % a.a.

Talvez nada expresse de forma mais eloquente do que essa comparação a ideia de que nosso país “parou no tempo”. Com um agravante: o assunto passa a anos-luz das questões discutidas no ambiente político, onde perdemos tempo com propostas equivocadas, quando não ocupados com debates ridículos.

Discutimos uma isenção fiscal aqui, um aumento de gastos lá, quando, como diz o Prêmio Nobel Paul Krugman, “no longo prazo, a produtividade é quase tudo”.

Procurando dar nossa contribuição ao debate, com meu colega José Ronaldo de Castro Souza Jr organizamos o livro “O desafio da produtividade” (Editora Lux), que acabamos de lançar e no qual 31 especialistas se debruçaram sobre os diferentes aspectos que afetam essa variável, procurando explicar as razões de nosso desempenho tão medíocre e sugerir caminhos para o futuro.

O livro se inicia com duas epígrafes, das quais uma sintetiza a dimensão política do desafio. A frase é de Juan Carlos Torre, membro da equipe de Raul Alfonsín e que quase 4 décadas depois daquele governo politicamente notável, mas economicamente desastroso e com quase todos os atores da época já falecidos, publicou as memórias sobre aquela experiência, onde reconheceu que “o pensamento progressista argentino esteve tradicionalmente voltado para os temas da distribuição de renda e da defesa dos recursos nacionais.

As questões referentes ao crescimento e a como fazer para gerar racionalidade econômica nunca ocuparam um lugar central na sua agenda”. A mesma reflexão, ipsis litteris, poderia ser feita sobre a intelligentzia progressista brasileira.

Dividimos o tratamento do tema, conceitualmente, em quatro partes. A primeira é uma introdução com os aspectos gerais da questão. A segunda é uma espécie de survey da literatura especializada sobre o tema.

A terceira está associada à seguinte reflexão: “Por que nossas políticas públicas prejudicam a produtividade do país?” e traz um conjunto de capítulos nos quais faz-se uma espécie de compêndio de nossas falhas históricas que explicam o pobre desempenho das últimas quatro décadas, indo desde os problemas de nosso sistema tributário até a cada vez mais grave questão da nossa insegurança jurídica, passando pelas distorções da legislação trabalhista, os equívocos de nossa política comercial, as mazelas da nossa educação e de nossa infraestrutura, etc.

Finalmente, a quarta parte traz um conjunto de capítulos englobados na ideia de “O que fazer?” e sugere desenvolver os temas da inovação e da melhora das práticas de gestão e incorporar os temas da transição energética, fechando com uma espécie de roteiro que coloque o aumento da produtividade no topo da agenda de prioridades do país.

Em 2004, num outro livro que organizei, Armando Castelar concluía seu capítulo com o título “Por que o Brasil cresce pouco?” dizendo que “se nos próximos 20 anos o Brasil quiser repetir o excelente desempenho de 1930-1980, será necessário combinar uma queda do custo do investimento, com um aumento da poupança nacional e políticas que sustentem um significativo crescimento da produtividade”.

É deprimente que, 20 anos depois, essas palavras continuem sendo atuais. Nesse ínterim, se nos fue la vida. Está na hora do tema passar a ser tratado como prioritário pela liderança política do país.

 

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