Folha de S. Paulo
PL Antiaborto por Estupro perdeu apoio
parlamentar porque permitiu descrever mudança como uma medida que imporia à
vítima pena maior do que a prevista para o estuprador
Pelo que leio nos jornais, o famigerado PL Antiaborto por Estupro vai para a geladeira. A repercussão negativa da proposta foi de tal ordem que os deputados do centrão que ajudaram a aprovar o regime de urgência pularam fora. Em seguida, a própria bancada evangélica, sentindo cheiro de derrota, começou a achar melhor deixar a investida contra os direitos das mulheres para uma próxima ocasião. O que aconteceu?
Um dos achados da neurociência mais
relevantes para a política é que metáforas têm existência concreta no cérebro e
influenciam nossos pensamentos. Até onde sei, o primeiro a explorar isso foi o
linguista George Lakoff.
Neurônios que com frequência disparam juntos formam conexões entre si que se
fortalecem à medida que são mais utilizadas. Metáforas são justamente essas
conexões entre ideias e sentimentos negativos ou positivos que imprimem um
conteúdo emocional (e político) à comparação mental.
A metáfora "aborto é assassinar
bebês" está bem assentada no Brasil. É ela que dificulta o reconhecimento
de um direito tão básico como o de que as mulheres devem ter soberania sobre
seus próprios úteros. Mas, desta vez, a bancada evangélica comeu mosca. Foi tão
afoita em endurecer a legislação do aborto que permitiu descrever o PL como uma
medida que faria com que a vítima de estupro ficasse sujeita a penas maiores
do que as previstas para seu estuprador. E isso foi fatal para o
projeto. As caixas de mensagens e o WhatsApp dos parlamentares devem ter ficado
atulhadas de protestos.
Esse tipo de movimento que leva congressistas
a "mudar de ideia" não acontece todos os dias, mas não chega a ser
inédito. Costuma ocorrer em situações de rematado exagero ou de franco
corporativismo.
Gostaria de interpretar essa batalha de metáforas como um avanço
civilizacional, mas receio que ela traduza mais um impulso punitivista da
população do que uma reflexão madura sobre a autonomia individual.
Eu não acredito que a PL deixará de ser votada e espero ser aprovada porque a partir de uma decisão inconstitucional do STF que permitiu o aborto a partir de 22 semanas ou seja cinco meses e meio data que a criança já pode nascer e viver, foi criada a polêmica
ResponderExcluirA CNBB Entidade que representa a Igreja Católica no Brasil , emitiu uma nota oficial apoiando a PL contra o aborto que tramita na Câmara Federal com o lema :
“A mãe e a criança devem viver e terem vida em abundância “
Pois é.
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