Folha de S. Paulo
Ceticismo do próprio partido em relação à
candidatura poderá ser fatal
A performance de Joe Biden no
debate de quinta-feira (27) foi nada menos que desastrosa. Em tese, isso não
precisaria ser um grande problema.
Jornalistas, marqueteiros e os próprios políticos nutrem um certo fetiche por debates, mas eles são menos importantes do que se imagina. Em condições normais, isto é, quando os contendores alternam momentos positivos e negativos, o eleitor, mobilizando seu viés de confirmação, valoriza as boas tiradas do candidato para o qual torce e menospreza seus tropeços. O simpatizante do postulante rival faz o mesmo e, no cômputo geral, pouca coisa muda.
Esse, porém, não foi um debate normal. Biden
saiu-se realmente mal. Acho que nem o mais ideológico dos eleitores democratas
está vendo algo de bom para elogiar. Ocorre que, mesmo nessas raras situações
de insofismável massacre, o efeito sobre as intenções de voto costuma ser
efêmero, não durando mais que alguns dias. Debates assim podem ser um fator
decisivo quando ocorrem às vésperas do pleito, mas não deveriam sê-lo quando
têm lugar quase cinco meses antes.
Apesar disso, Biden se encrencou. Seu
desempenho transmitiu uma imagem de confusão e fragilidade que reforça a ideia
de que ele, agora com 81 anos, está velho demais para exercer o cargo. Essa
narrativa "pegou" e já se tornou o principal ponto fraco de sua
candidatura. Mas o que se mostra realmente tóxico para a campanha é a reação de
boa parte do establishment democrata, que entrou em pânico e já nem esconde
articulações para eventualmente substituir o presidente por um outro candidato.
A esta altura, o eleitor independente, que
acabará definindo o pleito, deve estar se perguntando por que deveria confiar
em Biden, seja como candidato, seja como presidente, se nem seus aliados o
fazem.
Recuperar-se de uma má performance em debate não é difícil, mas enfrentar o
ceticismo do próprio partido em relação à campanha talvez seja fatal.
Que pena!
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