Folha de S. Paulo
Bons números da economia não se traduziram em
popularidade para Lula
É difícil afastar a sensação de que o
governo Lula está
meio perdido. O petista foi eleito para impedir a permanência de Bolsonaro no
poder. Nisso, Lula, ou melhor, o Brasil triunfou.
O passo seguinte seria fazer um governo bom o bastante para assegurar a recondução do próprio Lula ou do petista ungido como seu sucessor. Sabendo que caminhava em terreno pantanoso —a vitória foi por um triz—, Lula negociou com o Congresso, ainda na transição, uma PEC que lhe rendeu R$ 145 bilhões extras para gastar no início da gestão. O cálculo era o de que a administração precisaria produzir resultados positivos já no primeiro ano, para não ter a legitimidade contestada.
Nos indicadores, deu certo. O país cresceu em
2023 bem mais do que se previa; emprego e renda aumentaram; a inflação não
saiu de controle, ainda que os preços estejam em patamar elevado. O problema —e
isso pode ter sido uma surpresa para Lula— é que os bons números não se
traduziram em popularidade, ao contrário até. Nisso Lula não está só. A
economia americana também vai bem, mas Biden não converte isso em intenção de
voto. Algo parecido ocorre na Europa.
O programa neurológico petista para esse tipo
de situação é "dobre a aposta, multiplicando gastos sociais e
investimentos públicos". Ainda que a estratégia possa funcionar em certos
contextos, não é esse o caso do Brasil hoje. Com a PEC da Transição, Lula já
antecipara o espaço para gastos que governantes guardam para o final de
mandato. Pior, como os juros americanos
não caíram, a folga fiscal com a qual o governo contava não se materializou.
O instinto de Lula é imprecar contra o BC e a
Selic, mas, cada vez que ele faz isso, dólar e juro longo sobem, apertando mais
o nó fiscal. Dólar alto vira facilmente inflação, que seria fatal para os
planos do petista.
Vamos agora ver se Lula conserva pensamento
flexível e capacidade de improvisar ou se é um caso perdido.
Sei.
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